AFP – Apoiadores do ex-presidente da Bolívia Evo Morales ocuparam um quartel hoje (1º) e retiveram pelo menos 20 militares na região cocaleira de Chapare, perto de Cochabamba.
Grupos pró-Morales organizam protestos na região, que é um reduto do ex-presidente, há 19 dias.
“Aqueles que realizaram ou pretendem continuar com atos criminosos contra os direitos fundamentais, os direitos humanos, a segurança e a liberdade do povo (…) são instados a abandonar suas atitudes e deixar o quartel imediata e pacificamente”, disseram as Forças Armadas em um comunicado.
A ação dos apoiadores de Morales seria uma resposta à intervenção policial e militar contra bloqueios de estradas organizados pelo líder dos plantadores de coca. Os bloqueios visam tentar evitar a prisão do ex-presidente, investigado pelo suposto abuso de uma menor durante seu mandato em 2015.
As Forças Armadas disseram, em nota, que “grupos armados irregulares” tomaram a unidade, “com o sequestro de pessoal militar, armamento e munição”. Uma fonte da Defesa do país explicou à agência AFP que há “cerca de 20” retidos entre oficiais e soldados.
Evo Morales rompeu com o presidente Luis Arce, seu ex-aliado, o que levou o país a uma tensão política.
No último domingo (27), Evo Morales, que ficou na presidência do país entre 2006 e 2019, afirmou que “agentes do Estado” boliviano tentaram assassiná-lo em um ataque a tiros contra seu veículo e que o ataque, que aconteceu no centro de Cochabamba, deixou seu motorista ferido.
“Denuncio de maneira urgente” ante a CIDH “que agentes de elite do Estado Boliviano atentaram contra a minha vida no dia de hoje [domingo]”, informou Morales na rede social X, citando a Comissão Interamericana de Direitos Humanos.
A declaração ocorreu horas depois de Morales postar o vídeo do suposto atentado e dizer que seu veículo tinha sido atacado com “14 disparos” por homens encapuzados.
Nesta segunda, o ex-presidente boliviano exigiu a demissão de Castillo e do ministro da Defesa: “Se Luis Arce não deu as ordens para nos matar, ele deve demitir e processar imediatamente seus ministros de Defesa e de Governo, Edmundo Novillo e Eduardo Del Castillo”.
Um dia antes da denúncia de Morales, Luis Arce trocou a cúpula militar do país, em meio a bloqueios de estradas promovidos por simpatizantes de Morales em protesto contra a investigação judicial contra ele.
No domingo, o vice-ministro de Segurança Pública, Roberto Ríos, disse que as autoridades consideravam a possibilidade de um “autoatentado”.
“Como autoridades de Estado, é nossa obrigação investigar qualquer denúncia, seja ela verdade ou mentira, sobre a existência de um autoatentado”, declarou Ríos aos jornalistas.
Investigação contra Morales
O ex-presidente Evo Morales é investigado por suposto abuso de uma menor de idade com quem teve uma filha durante o seu mandato. O Ministério Público anunciou há algumas semanas que emitiria um mandado de prisão contra ele, mas não se pronunciou desde então.
Os partidários de Morales bloquearam várias rodovias do país desde 14 de outubro em resposta Às acusações. Os cortes nas estradas provocam escassez de combustíveis e aumento dos preços de produtos básicos em várias cidades.
Segundo a Administração Boliviana de Estradas, o país tem 16 pontos de bloqueio, a maioria no departamento de Cochabamba, reduto de Morales.
Na sexta-feira (25), mais de 1.700 policiais foram mobilizados para desativar os bloqueios. Nos confrontos, 14 policiais ficaram feridos e 44 pessoas foram detidas, segundo o governo.
Ex-aliados, Arce e Morales estão em uma disputa pela candidatura presidencial governista nas eleições de agosto de 2025, embora apenas o ex-presidente tenha anunciado oficialmente que deseja disputar o pleito.
O Ministério das Relações Exteriores denunciou no sábado em um comunicado que estão em curso “ações desestabilizadoras lideradas por Morales que pretendem interromper a ordem democrática”, o que ameaça a estabilidade da Bolívia e da região.
“O Estado da Bolívia faz um apelo à comunidade internacional, aos Estados, aos organismos multilaterais e aos povos do mundo para que permaneçam atentos diante dos acontecimentos”, afirmou o ministério.
Segundo o Ministério do Desenvolvimento Produtivo e Economia Plural, os bloqueios já provocaram perdas de quase US$ 1,2 bilhão (6,85 bilhões de reais).
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