Ditadura da Nicarágua fecha rádio e intensifica perseguição à Igreja Católica

O governo do ditador Daniel Ortega intensificou a repressão à Igreja Católica ao fechar a Rádio María, emissora com mais de 40 anos de atividade no país. A ministra do interior, Maria Amelia Coronel, anunciou a anulação do status jurídico da rádio, citando a falta de apresentação de balanços financeiros entre 2019 e 2023.

O fechamento da Rádio Maria é o mais recente episódio de uma série de ações do governo contra instituições católicas, incluindo o bloqueio das contas bancárias da rádio em abril, forçando a redução da programação de 24 para 14 horas diárias. A dissolução da rádio foi publicada no jornal oficial “La Gaceta de Nicaragua” juntamente com o fechamento de outras 12 entidades.

A relação entre o governo de Ortega e a Igreja Católica tem sido marcada por tensões que se intensificaram desde os anos 1980, quando a Igreja passou a denunciar abusos cometidos pelo governo sandinista. A situação piorou após os protestos de 2018, nos quais a Igreja apoiou demandas por reformas democráticas. Desde então, a Igreja tem sido alvo de centenas de ataques por parte do Estado.

A Igreja Católica na Nicarágua

O catolicismo chegou à Nicarágua no século XVI com a conquista espanhola e permaneceu como a religião predominante até os dias atuais.

A Igreja Católica, dividida em sete dioceses, incluindo uma arquidiocese, é liderada pela Conferência Episcopal da Nicarágua e controla uma parte significativa do sistema educacional, especialmente as instituições privadas. Festas religiosas são celebradas em honra aos santos padroeiros em todo o país.

A Igreja Católica tem historicamente desempenhado um papel de mediadora em momentos de crise política, como durante a Revolução Sandinista e os protestos de 2018. Nos últimos anos, a Igreja tem sido uma das principais vozes de oposição ao regime de Ortega, denunciando abusos de direitos humanos e repressão política. A perseguição governamental inclui o fechamento de rádios católicas, a prisão de padres e bispos, e a expulsão de missionários.

Os fiéis católicos na Nicarágua relatam medo de praticar sua fé abertamente, com relatos de listas de católicos mantidas por Conselhos de Poder Cidadão locais, resultando em discriminação e perseguição.

A Igreja Católica oferece uma ampla gama de serviços sociais, especialmente em áreas rurais, onde muitas vezes é a única fornecedora de educação, saúde e assistência social. A moral e a autoridade da Igreja permitem que ela seja uma voz respeitada e influente em questões nacionais.

A relação entre Lula e Ortega

Lula chegou a minimizar a ditadura de Ortega, comparando seu tempo no poder ao da ex-chanceler alemã Angela Merkel. O governo brasileiro também não aderiu a uma declaração conjunta de mais de 50 países que denunciaram os crimes de Ortega na ONU e se absteve de condenar Ortega em uma votação na OEA.

Apesar de afirmar que tentaria falar com Ortega sobre a libertação do bispo Rolando Álvarez e outros religiosos presos, essas tentativas não resultaram em mudanças significativas na postura do regime nicaraguense. Críticos, como o escritor nicaraguense exilado Sergio Ramirez, consideram “desconcertante” o silêncio de Lula sobre Ortega.

A situação na Nicarágua representa um grave ataque à liberdade religiosa e aos direitos humanos. A Igreja Católica, historicamente uma instituição de grande influência social e cultural no país, tornou-se um dos principais alvos do regime de Ortega devido à sua postura crítica e seu papel como contraponto moral ao governo autoritário.

Fonte: O Antagonista