Alguém falhou e o Ministério da Justiça foi acessado por uma condenada mulher de líder de facção.
Nos últimos dias, parte do 1º escalão do governo federal se envolveu em questões alheias à administração e não pode atribuir culpa a opositores. Do nada, dividiu manchetes com Hamas e Comando Vermelho, o terror do Oriente Médio espalhado pelo planeta e o horror do Rio de Janeiro exportado para o país todo.
É improvável que seja estratégia, pois custa-se a crer que haja tantos suicidas assim querendo pular no precipício e levar junto não determinado partido, mas o próprio governo. Como canta Zé Geraldo, isso tudo acontecendo e nós aqui na praça dando milho aos pombos.
É digna de estudo por especialistas em criminologia essa vontade de ser vítima. Estão lá Israel e grupos terroristas se enfrentando, logo surge um sábio da Esplanada dos Ministérios se enfiando no meio, negando que seja terrorismo degolar crianças, sequestrar jovens e jogar bombas em multidão. Felizmente, assim como o Hamas não é sinônimo de Palestina, partido nenhum representa o Brasil.
Aliados do presidente compram encrenca com os líderes máximos do Legislativo, Arthur Lira na Câmara e Rodrigo Pacheco no Senado. Depois, Lula em pessoa precisa articular para conseguir votos e destravar a nação. Isso é maneira simbólica de ir para o alto das torres gêmeas do Congresso, ameaçar pular e descer de rapel.
A falta de cuidados em alguns setores pode brecar a ascensão de quem dispõe de futuro. Há bons quadros em quaisquer matizes ideológicas e um deles é Flávio Dino. Desde a Independência, houve 200 ministros da Justiça e para se equiparar a ele é necessário alcançar o nível de um que foi interino por 3 dias, Ruy Barbosa.
Dino tem cabedal suficiente para ser presidente da República, como o foram 4 de seus antecessores, Campos Sales e Epitácio Pessoa em mandatos cheios, Nereu Ramos por 3 meses e Tancredo Neves sem chegar a assumir o Planalto. Caso integre o Supremo Tribunal Federal, já entra no panteão reservado aos grandes. Portanto, nome de tamanho vulto teria de ser mantido em cristal blindado por seus companheiros. Não é o que sido feito com ele.
Alguém falhou e o Ministério da Justiça, o nº 1 em importância e data de fundação, 3 de julho de 1822, foi acessado por uma condenada a 10 anos de cadeia, mulher de um líder de facção. O que isso tem a ver com Dino? Rigorosamente nada. No entanto, apareceu até pedido de impeachment, inclusive de componentes da base aliada se passando por alijada. Por quê? Porque ele é o ministro.
O secretário de Assuntos Legislativos do MJ, Elias Vaz, estrelou foto com a sentenciada e assumiu ter sido um erro deixá-la entrar no prédio. Conheço Elias Vaz desde antes de ele exercer mandato (foi vereador e deputado federal por Goiás). Ligação zero com bandidos. Porém, caíram sobre sua cabeça os raios de tenebrosas tempestades. Por quê? Porque ele é o secretário.
Tanta coisa acontecendo para o secretário e o ministro cuidarem e eles aqui, no peito e na raça, dando explicações a aves de mau agouro. O ministro Gilmar Mendes, possível futuro colega de Dino no Supremo Tribunal Federal, agiu ao contrário da música de Zé Geraldo. Em seu estilo direto, acertou no olho da mosca-varejeira: para dar ao tema “a seriedade que ele merece” é imperioso discutir a dimensão forçada pelo crime organizado na sociedade. Impecável.
Se a portaria dos ministérios não obtiver olho vivo e faro fino, os insetos dípteros esquizóforos vão depositar seus ovos nos tecidos da burocracia em decomposição. Deu brecha, eles entram e se multiplicam, ainda que para isso tenham de tentar inclusive naqueles que não se contaminam.
Obviamente, guarda-se no exemplo a seguir distância maior entre as partes do que da Faixa de Gaza ao Plano Piloto, entretanto, a fronteira de Israel mostrou-se porosa como a bela sede do Ministério da Justiça. O Hamas se infiltrou, ganhou terreno dentro do território de Israel e ali cometeu as monstruosidades que vêm apavorando o mundo nas últimas semanas.
Ao desfilar por corredores e salas de órgãos públicos federais, o que fez a senhora que posou com deputados e servidores? Provavelmente, coisa alguma. (Torçamos por isso.) O problema é o que sair dos ovos se imiscuir pelas frestas do poder e em breve dominar as estruturas.
O ministro Gilmar Mendes lembrou-se “da mistura que há entre o crime organizado e a política”. No Rio de Janeiro, essa fronteira foi derrubada antes do Muro de Berlim. Democracias como a brasileira passam de coalizão a colisão no instante em que os ocupantes de cargo apresentam princípios tão rígidos quanto bons.
Por que resultou em escândalo uma condenada passear no Ministério da Justiça? Porque Dino e Elias são sérios. Ocorreu a colisão. Se fosse numa pasta em que o ministro e seus secretários se ocupassem de enriquecer à custa do erário, ocorreria a coalizão. Nem conteúdo de post seria.
O “delito” de Elias foi recepcionar um grupo de advogadas a pedido de uma ex-deputada do Psol. O secretário, um dos fundadores desse partido, considerou-a insuspeita. Na manhã seguinte, deu tempo nem de contar até 20: estava a psolista desmascarada com pagamentos do Comando Vermelho. Portanto, nos retratos havia uma mulher e uma defensora de facção.
Se um jornal, o Estado de S.Paulo, descobriu esse tanto de varejeira nos rodapés da repartição, começa-se a desconfiar da tecnologia que o Ministério da Justiça e Segurança Pública usa para achar sequer calo em boca de banguela. Uma empresa privada flagra a mulher de César sendo enganada pela esposa do czar das drogas e os computadores do governo não detectam que a advogada do tráfico e sua cliente condenada estão lá fora furando espaço na agenda do secretário, na cadeira em frente à sua mesa e no mosaico das selfies.
O papel de articular más notícias é exercido pelos integrantes da aliança pela governabilidade. Para que se aliar ao Hamas? Para que legitimar as atividades criminosas do MST? Para que esgarçar os conceitos de normalidade ao fechar acordos com as mesmas sombras e o risco de resultar nas mesmas assombrações? Vigiai e orai.
As mariposas são atraídas pela luz e sobram pretendentes a fotos e vídeos com autoridades. No meio da rua, num evento, cercando no corredor, tudo bem, não há como checar os dados de quem só fica a seu lado durante o flash. Outra coisa é viajar do Rio e do Amazonas para duas visitas agendadas, mostrar 2 vezes até o teste do pezinho e o sistema de informações se omitir quanto ao currículo de uma condenada por tráfico.
Não vale a comparação com o Hamas, “preparando na surdina suas mortalhas/ A cada conflito mais escombros”, como na letra de Zé Geraldo, porque em Israel os terroristas só entram como salteadores, aqui eles saltam diretamente para a página dos elogios.
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