Nem é preciso estar de porre para nosso entusiasmo com a humanidade durar pouco, com a esperança imersa na ressaca. Entusiasmo motivado, ressalte-se. Estamos nos acostumando com a volta à normalidade pós-pandemia e começam a aparecer anestesistas estupradores de grávidas.
Cada riso é seguido por corredeiras de lágrimas. Ou enxurradas mesmo, carregando pessoas, automóveis, casas, morros. Morros! Culpa da chuva? Não, dos homens que fizeram as habitações nas encostas, dos que autorizaram, dos que se omitiram e não prenderam políticos e técnicos envolvidos na tragédia que se repete a cada estação.
Assim rasteja a humanidade, com um olho no pôr do sol, outro no precipício. Na mesma 2ª feira (3.abr.2023) em que a Nasa anunciou a ida à Lua de astronautas brancos, negro e mulher, o Ministério dos Direitos Humanos revogou a Ordem de Mérito Princesa Isabel.
Um órgão oficial com tal nome deveria se abster de fazer bobagem. O que a nobre chamada de “A Redentora” fez de tão ruim para o ministério cassar a concessão da medalha? Nada. Assinou a Lei Áurea. A pasta ainda anunciou que em troca vai distribuir o Prêmio Luiz Gama.
Além da tolice, o que o governo deseja é manter o radicalismo e dividir o Brasil entre idiotas e imbecis; idiotas de um lado, imbecis por todos os lados. Isabel era branca e Gama, negro, mas ambos foram abolicionistas. Para que unir o país, como Lula prometeu na campanha, se pode-se aumentar o fosso, como Lula vem fazendo desde que tomou posse? Assim, a humanidade caminha para trás, igual a rastro de curupira.
A humanidade vive de lampejos de gênios, como no caso da mobilidade, porém não cuida das consequências. Inventou-se o veículo automotor, mas os governos só se preocupam com os impostos e as multas, zero investimento contra a poluição que encobre cidades e recheia pulmões.
A mulher ocupa, por mérito, cada vez maiores e melhores espaços nas diversas áreas da economia, da política, da cultura, da segurança e do conhecimento. Você acessa a página seguinte e –ploft!– surgem artigos de militantes atribuindo as conquistas femininas ao barulho de feministas.
Em junho de 2022, o Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) divulgou que a produtividade agrícola cresceu 400% no Brasil desde 1975. No mesmo período, a produção subiu de 38 para 322 milhões de toneladas de grãos. Entre os fatores que explicam o aumento, sem desprezar o heroísmo e a vocação de quem trabalha no campo, está a tecnologia em máquinas e defensivos.
Aí, os ecologistas de sofá se dedicam a combater os agrotóxicos –nunca os chamam de defensivos. São os mesmos desocupados que desejam combater a fome e o desmatamento com postagem nas redes sociais. Para eles, verdura, legumes, hortifrutigranjeiros e carnes nascem nas gôndolas dos supermercados. A mente turva prefere esquecer a quantidade de árvores que seriam derrubadas para se colher o alimento necessário a tantos estômagos da humanidade sem os avanços patrocinados pelo agronegócio.
O termo agronegócio desperta paixões como as exibidas na campanha presidencial de 2022. A favor e contra, todas radicais. Não ocorreu a nenhum dos detratores devolver aos produtores rurais, da agricultura familiar às grandes propriedades, os recursos advindos de seu suor em forma de impostos e empregos. Todavia, há setores piores. Continue lendo e se conformando com a darwinista humanidade, a minha, a sua.
Em 2022, o Brasil pagou R$ 586 bilhões e R$ 400 milhões em juros da dívida pública. E reduziu de R$ 175 milhões para R$ 97 milhões o que o Ministério da Saúde investiria em 2023 na Rede de Atenção à Pessoa com Doenças Crônicas – Oncologia. Cadê as manifestações em face do horror? Internautas xingando indignados? Ninguém vê nada de errado no fato de o governo dar aos banqueiros, de mão beijada e lambida, 6.000 vezes mais recursos públicos do que às vítimas de câncer –são 704 mil novas a cada ano, segundo projeção do Inca (Instituto Nacional de Câncer). E assim tropeça a humanidade e cai com a cara numa cratera.
Haja buraco! São milhões nas ruas e rodovias. A pavimentação foi inaugurada dias atrás e olha lá o pessoal da manutenção jogando piche para corrigir rachaduras. Poxa, mas nem choveu. Não precisa: asfalto no Brasil se desfaz com relâmpago e esfarinha com trovão. Quando as águas de março encerram o verão, o chão preto já acabou há muito tempo. Se existe no mercado interno material de qualidade, inclusive usado em países decentes, por que os órgãos de controle aceitam a prestação de contas do contratante da empreiteira? A humanidade não caminha, ela desvia.
O que nem os mais embrutecidos conseguem desviar é o olhar diante do desfile roto dos craqueiros. A Organização Mundial de Saúde estima em 6% da população o índice de dependentes químicos. O IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), em nova decisão discutível entre tantas neste mundão de meu Deus, não divulga quantos somos “até a conclusão do Censo 2022”. Talvez sejamos uns 215 milhões, calculados pelo mesmíssimo IBGE em 2021: 6 multiplicado por 215, dividido por 100, quase 13 milhões de dependentes químicos. Treze milhões! Os habitantes de 130 nações não chegam ao número de viciados patropis. Nós, humanos, demasiado humanos, permitimos que o Brasil seja uma imensa cracolândia.
As autoridades nacionais sabem por onde vêm as drogas, quem as colhe e transporta, onde são vendidas. E deixamos ter mais marinheiros no Distrito Federal que nos rios que fazem fronteira com os plantadores de coca e maconha. Mais militares de Exército e da Aeronáutica tiram serviço atrás de mesas em gabinetes do que tentando frear o tráfico vindo de Paraguai, Bolívia e Colômbia.
Depois que as cargas entram no Brasil, as polícias estaduais, a Federal e a Rodoviária Federal apressam-se a enxugar as pontas de iceberg. O resultado: lota cadeias e hospitais, destrói famílias, passeia arrastando cobertores pelas calçadas, pedindo nas esquinas, roubando para comprar pedra ou pó.
Se sabemos de tudo isso, por que assistimos impassíveis? Porque somos humanos. Cristo foi morto porque a maioria preferiu o assassino. Não é paradoxo, é o jeito, o único jeito, e o jeito é cantar com a divina Elizeth Cardoso a letra de João Violão e Luiz Antônio:
Eu bebo sim
Eu tô vivendo
Tem gente que não bebe e tá morrendo
Tem gente que detesta um pileque
Diz que é coisa de moleque
Cafajeste ou coisa assim
Mas essa gente quando tá com a cara cheia
Vira chave de cadeia
Esvazia o botequim
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