RFI – A polícia militar de Madagascar confirmou, nesta terça-feira (30), que seus agentes mataram 19 pessoas ao dispararem contra uma multidão enfurecida que havia tentado entrar no quartel, na véspera, para fazer justiça com as próprias mãos, depois do desaparecimento de uma criança albina.
“Dezenove pessoas perderam a vida e 21 feridos ainda estão sendo tratados” no hospital de Ikongo, pequena cidade no sudeste da ilha, onde ocorreram os confrontos, afirmaram os policiais em um comunicado. Uma investigação foi aberta e a situação está calma no momento.
O número de mortos foi confirmado pelo médico chefe do hospital local, Dr. Tango Oscar Toky. De acordo com ele, as equipes de emergência ainda aguardavam a chegada de vítimas com ferimentos graves.
Desde a semana passada, Ikongo, localizada nas montanhas a cerca de 350 km da capital Antananarivo, está em estado de choque: uma criança albina desapareceu e as autoridades suspeitam de um sequestro.
Albinos são vítimas de violência
Pessoas com albinismo são regularmente alvo de violência nesta grande ilha da África Austral. Muitas vezes, os ataques são relacionados a certas crenças. Causado pela falta de melanina, pigmento que dá cor à pele, cabelos e olhos, o albinismo é uma condição genética que afeta centenas de milhares de pessoas em todo o mundo, principalmente na África. Mais de uma dúzia de sequestros, agressões e assassinatos foram relatados nos últimos dois anos contra pessoas albinas, de acordo com a ONU.
Após o desaparecimento da criança, quatro suspeitos foram detidos no quartel de Ikongo. Os moradores furiosos queriam fazer justiça com as próprias mãos e foram ao local pedir a apresentação dos suspeitos a eles, de acordo com Jean Brunelle Razafintsiandraofa, deputado distrital ouvido pela AFP.
Segundo uma fonte policial presente no local, pelo menos 500 pessoas tentaram invadir o quartel, algumas das quais estavam armadas com “armas brancas” e “facões”. Um perímetro de segurança foi instalado e os guardas tentavam diminuir a tensão para “evitar um banho de sangue”, explicou segunda-feira (29) o comandante Andry Rakotondrazaka, durante uma coletiva de imprensa.
Ele citou as “provocações” de pessoas armadas com “paus e facas de lâmina longa”, além de pedras, que tentaram atravessar o perímetro de segurança. Os policiais dizem que primeiro usaram gás lacrimogêneo e dispararam tiros de advertência. “Mas, como último recurso”, eles “não tiveram outra escolha senão recorrer à autodefesa”, explicou o comandante da tropa.
“É um incidente muito triste e poderíamos ter evitado, mas o que aconteceu, aconteceu”, disse resignado. Eles “dispararam contra a multidão”, reagiu, por sua vez, o deputado Razafintsiandraofa, que sugere a abertura de um inquérito parlamentar.
As forças de segurança malgaxes são regularmente apontadas pela sociedade civil por violações dos direitos humanos e raramente são processadas.
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