O Extremismo Político e a Lição de Auschwitz: Um Alerta para o Presente

Por Luciano Martins

Há oitenta anos, Auschwitz foi libertado, um marco indelével que cristalizou o ápice da barbárie humana. Auschwitz não foi uma catástrofe isolada, mas o ponto culminante de um ciclo histórico alimentado pelo ódio, pela intolerância e pela omissão. Refletir sobre esse passado é essencial para que possamos identificar os sinais do presente e agir antes que o inevitável se repita.

O extremismo político nunca surge de forma abrupta. Ele se insinua gradualmente, aninhando-se em discursos de exclusão e fortalecendo-se pela apatia coletiva. Na Alemanha nazista, o regime ascendeu explorando crises econômicas e sociais, manipulando o medo e prometendo soluções simplistas para problemas complexos. Hoje, testemunhamos o ressurgimento de nacionalismos excludentes e polarizações exacerbadas, que ganham força de maneira alarmante, mobilizando retóricas que fomentam a segregação e a intolerância.

A lógica do “nós contra eles” continua sendo o alicerce do ódio. Sob o pretexto de proteção nacional ou justiça social, minorias étnicas, religiosas e sociais seguem sendo alvos frequentes. A normalização do preconceito, antes restrita a discursos marginais, agora ecoa em praças públicas e nos meandros digitais. Esse ambiente tóxico, amplificado pela desinformação, transforma a sociedade em um campo fértil para a ascensão de regimes autoritários.

Além disso, as instituições democráticas enfrentam ataques constantes. A deslegitimação dos processos eleitorais, a relativização da verdade e o enfraquecimento da confiança no Estado criam o vácuo necessário para que ideologias extremistas prosperem. O uso estratégico das redes sociais, muitas vezes sob o manto do anonimato, dissemina não apenas mentiras, mas também a sensação de que o extremismo é inevitável, quase natural.

No entanto, Auschwitz nos ensina que o desastre não é um destino, mas uma escolha — e ela começa com a omissão diante do ódio. O Holocausto não foi construído em dias; ele se enraizou em anos de indiferença, silêncios cúmplices e justificativas moralmente abjetas. Essa lição histórica clama por vigilância ativa, por uma sociedade disposta a confrontar os primeiros sinais da intolerância.

A pergunta que ressoa agora não se limita à memória, mas à ação: estamos fazendo o suficiente para enfrentar o ódio que se reorganiza sob novas roupagens? Auschwitz não é apenas um lembrete sombrio; é um farol que ilumina os perigos da nossa inércia. Combater a desinformação, educar para o pensamento crítico e proteger os direitos humanos não são luxos morais, mas imperativos históricos.

Assim como o passado nos sussurra advertências, o presente exige que as escutemos. A história mostrou que a apatia é cúmplice do extremismo, e as lições de Auschwitz são mais do que memórias sombrias; são um chamado à ação. O futuro depende das escolhas que fazemos hoje, no campo da verdade, da educação e da coragem coletiva.

A indiferença é o solo onde o ovo da serpente se incuba. Se não agirmos para esmagá-lo enquanto ainda está latente, permitiremos que ele ecloda e liberte o ciclo de destruição que outrora devastou o mundo. A escolha é nossa, e o tempo é agora.

Luciano Martins é advogado, assessor legislativo e vice-presidente da União Brasileira de Apoio aos Municípios (UBAM) no Estado de Mato Grosso do Sul. Atuou como secretário-adjunto de Governo, controlador-adjunto e diretor-presidente da Fundação Social do Trabalho no Município de Campo Grande (Funsat).