Brasileira que foi trazida paralisada em UTI aérea após contrair rara doença nos EUA recebe alta hospitalar

Como mostrado pelo AEROIN em abril deste ano, uma jovem brasileira e sua família estavam realizando uma “vaquinha” para arrecadar dinheiro para o pagamento de uma UTI aérea para transferência ao Brasil e das contas hospitalares nos EUA, após adquirir uma rara doença.

Cláudia de Albuquerque Celada, de 24 anos, viveu um pesadelo durante seu intercâmbio nos Estados Unidos, após contrair botulismo, uma infecção grave que causou a perda de fala e movimentos. Em estado grave, a comerciária, conhecida como Cacau, veio para o Brasil de UTI aérea e foi internada no Hospital e Maternidade São Luiz São Caetano do Sul, no ABC Paulista.

O Botulismo é uma condição rara, com menos de dez casos anuais no mundo, causada por uma toxina produzida pela bactéria Clostridium botulinum, uma das substâncias mais potentes conhecidas e que pode causar paralisia muscular e problemas respiratórios. Quando invade o corpo, pode ser mortal se não tratada e acompanhada em emergência.

O drama começou em fevereiro deste ano, quando Cláudia, que tem asma e diabetes, começou a sentir sintomas como confusão mental, visão dupla, fraqueza e falta de ar, pouco tempo depois de consumir uma sopa enlatada.

“Em princípio, não ligamos, pois pensamos ser algo corriqueiro e comum. Mas, quando o quadro se agravou, ligaram para minha irmã”, lembra Cláudia. A gravidade dos sintomas levou à sua internação em um hospital em Denver, capital do Colorado, onde ela precisou ser intubada devido à deterioração do seu estado de saúde.

Nos Estados Unidos, os médicos inicialmente suspeitaram de síndrome de Guillain-Barré, mas só descobriram o botulismo após exames de fezes que identificaram a toxina botulínica. Mesmo assim, o tratamento não trouxe a melhora esperada, e a família decidiu trazê-la de volta ao Brasil.

Segundo o pai de Cláudia, Antônio Celada, a situação era desesperadora: “Minha menina estava praticamente tetraplégica, precisando de aparelhos para respirar e se alimentar. Foi terrível”.

A transferência para o Brasil foi um desafio. A família precisou esperar 70 dias até conseguir um avião-ambulância que pudesse transportar Cláudia, já em estado crítico. Ao chegar no Hospital e Maternidade São Luiz São Caetano, da Rede D’Or, no início de maio, ela foi imediatamente para a UTI.

“Ela chegou num estado agravado, mantendo uma tetraparesia (semiparalisia, formigamento e fraqueza nos quatro membros), consciente, mas imóvel. Nosso foco, nesse cenário, foi mantê-la estável para atenuar gradualmente o progresso da doença, impedindo complicações secundárias como infecções ou sepses no período agudo”, lembra Luís Felipe Silveira Santos, supervisor médico da UTI adulto.

No hospital, uma equipe multidisciplinar, incluindo médicos, fisioterapeutas, fonoaudiólogos e psicólogos, cuidou de Cláudia durante sua longa recuperação e deu apoio também à família.

“Não via a hora daquilo passar. Acompanhava tudo que se passava ao redor, mas não conseguia me comunicar”, conta a jovem.

“Foi desafiador para todo o corpo clínico. Tínhamos de ter uma vigilância ininterrupta do leito. A Cláudia estava dependente e necessitava de ajuda para realizar todos os cuidados e até mudanças de posição. Isso afetou a parte mental da equipe também, porque estamos falando de uma garota nova e sadia, com uma vida pela frente, que estava presa, acordada, porém sem qualquer mobilidade, atada àquele quarto”, relata Adriano Romani, enfermeiro do São Luiz São Caetano do Sul.

Ao longo de meses de internação, foram realizados diariamente sessões de fisioterapia, exercícios musculares por meio de eletroestimuladores de realidade virtual e ações para restauro da dicção e deglutição via treinos de fala. Aos poucos, Cacau começou a mostrar sinais de recuperação e, com a retirada da traqueostomia e da sonda de alimentação, iniciou a retomada da vida normal.

“A compreensão dos psicólogos nos deu conforto para o cotidiano e a Cacau, posteriormente, também recebeu motivação para reconquistar sua autonomia. Por causa desse planejamento multidisciplinar minha filha já anda um pouco, ajudada por massagens e apoiando-se para levantar e sentar”, destaca Antônio.

Apesar de um contratempo em julho, quando Cláudia precisou ser internada novamente por causa de uma parotidite, inchaço das glândulas do pescoço, ela finalmente recebeu alta definitiva em agosto. O tratamento fisioterapêutico segue sendo realizado em casa.

“Estamos extremamente orgulhosos do papel desempenhado neste caso. Foi uma jornada desafiadora, que exigiu a dedicação incansável de nossas equipes médicas e multidisciplinares. A alta dela é um testemunho do compromisso do nosso hospital com a excelência no cuidado ao paciente, oferecendo tratamento humanizado e de alta qualidade. Celebramos essa vitória junto com a Cláudia e sua família”, destaca Michele Batista, diretora Geral do São Luiz São Caetano do Sul.

A principal forma de prevenção do botulismo é a correta manipulação, armazenamento e higienização dos alimentos, mais comumente responsáveis pela infecção. É recomendado o cozimento também dos alimentos em conserva, já que um tempo mínimo de fervura pode erradicar as bactérias.

A doença também pode se manifestar quando a Clostridium botulinum contamina uma ferida e produz a toxina dentro do corpo, ou por inalação (o que é extremamente raro).

Os sintomas se manifestam geralmente entre 12 a 36 horas após a exposição e o tratamento envolve o uso de antitoxina, suporte respiratório e cuidados intensivos.

“O progresso foi lento, mas constante. Graças ao empenho de muitos profissionais, Cláudia começou a andar novamente e a respirar sem ajuda de aparelhos. Ver minha filha saudável novamente foi um alívio. Manter a fé e confiar nos profissionais de saúde foi fundamental para superar esse pesadelo”, conclui Antônio.

Fonte: Aeroin