Embora a Covid-19 tenha provocado mais casos graves e mortes entre pessoas idosas vivendo com comorbidades, como diabetes, hipertensão e obesidade, a doença também ocasionou esses quadros em pessoas abaixo dos 60 anos e sem doenças crônicas. A ciência ainda não sabe explicar a razão dessa circunstância, porém um estudo em desenvolvimento na Fiocruz Pernambuco pode ajudar a responder porque jovens saudáveis morreram em consequência da doença.
A pesquisa investiga qual chave genética, molécula ou mutação no DNA pode ter levado estes pacientes à morte. O estudo é feito por meio do sequenciamento completo – e não parcial – do genoma de 207 pacientes, sendo 168 deles jovens que tiveram a Covid grave precisando de UTI ou foram a óbito (grupo caso) e 39 idosos com comorbidades que tiveram a forma leve da doença (grupo controle). Trata-se de um diferencial dessa pesquisa, pois, em geral, os estudos com genoma sequenciam menos de 2% do DNA humano, focando apenas em regiões codificantes. Outra característica desse trabalho é que nenhum dos pacientes envolvidos havia tomado a vacina contra essa enfermidade. O projeto multicêntrico envolve mais três instituições, além da Fiocruz Pernambuco, da Fiocruz Bahia e do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz): o Hospital Português (PE) e as universidades federais da Bahia e do Vale do São Francisco.
“Poderemos saber, por exemplo, se a pessoa que sofreu mutação em determinada molécula tem maiores chances de morrer. Com uma informação dessa é possível desenvolver medicamentos que atuem nessa alteração causada pela Covid”, esclarece o coordenador do estudo e pesquisador do Departamento de Parasitologia da Fiocruz Pernambuco, Luydson Vasconcelos. “Esses dados serão únicos porque somos uma população miscigenada. Saberemos como funcionam nossos genes do ponto de vista da arquitetura genética”, completa. No Brasil, só mais um grupo de pesquisa, além do liderado por Vasconcelos, trabalha com o sequenciamento completo do genoma humano e Covid-19. Este atua em São Paulo.
De acordo com o pesquisador, atualmente só há de três a quatro estudos de grande porte sobre características genéticas relacionados a Covid-19, no mundo. “Hoje sabe-se que o gene Adam9 está envolvido nas mortes provocadas pela doença em jovens, incluindo os obesos. Também é de conhecimento que há variantes genéticas no cromossomo 3 presentes em pessoas com Covid grave. O dado é de uma pesquisa com pessoas dos Estados Unidos e da Europa”.
As amostras de sangue usadas no estudo desenvolvido pela Fiocruz e parceiros foram coletadas de pacientes de sete estados (Bahia, Mato Grosso, Minas Gerais, Pará, Pernambuco, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul), de agosto de 2020 a agosto de 2021. A maioria com idade entre 39 e 42 anos. O sequenciamento genético foi concluído, tendo gerado mais de 15 terabytes (TB) de dados que agora estão em análise. Todo o material foi processado na própria Fiocruz Pernmabuco, no sequenciador NovaSeq da Illumina. Terminado o estudo, os sequenciamentos serão lançados em bancos de dados internacionais para acesso livre.
Nesta nova etapa da pesquisa, será feita uma análise da descrição detalhada de todas as variantes genéticas encontradas nas amostras, a identificação das vias mais significativas no processo de agravamento da Covid e a análise de ancestralidade genética, fundamental na caracterização das amostras do estudo.
A pesquisa da Fiocruz Pernambuco está sendo desenvolvida com recursos do edital Inova da Fiocruz, mais o aporte financeiro dado pela Vice-presidência de Pesquisa e Coleções Biológicas (VPPCB) da Fundação.
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