Futurologia: presidenciáveis para o pós-Lula
Getúlio Vargas tinha 68 anos quando Haroldo Lobo e Marino Pinto compuseram “Retrato do Velho”, seu jingle para a volta à Presidência em 1950. A marchinha bombou no Carnaval do ano seguinte, na maravilhosa voz de Francisco Alves. Em 2022, o brasileiro botou “o retrato do velho [Lula da Silva] outra vez”. Na campanha, afirmou: “Se eleito, serei presidente de 1 mandato só”. Sem Lula numa eleição futura, sem tratar de inelegíveis, quem “tu não vais botar no lugar?”.
Virando à direita, sobressai-se o casal Bolsonaro. Jair perdeu para Lula por mísero 1,8 ponto percentual. Portanto, está vivíssimo. Parte de seu prestígio se dissolveu por obra de alguns militantes. Porém, os patriotas são seu patrimônio.
Michelle Bolsonaro é protagonista no meio evangélico e segura a popularidade de Jair em faixas do eleitorado feminino e da inclusão, pois popularizou o aprendizado de libras, a linguagem brasileira de sinais.
Pindamonhangaba (SP) tem sempre candidato a presidente nas últimas eleições. Quando não é Geraldo Alckmin (tentou duas vezes), novo ministro da Indústria e Comércio, é Ciro Gomes (tentou 4). Alckmin nasceu em 7.nov.1952, precisamente 40 dias depois da morte, na mesma Pinda, de Chico Alves, aqui lembrado pelo “Retrato do Velho”, mas cantor de muitos hits inesquecíveis. Vice de Lula, Alckmin teve 4 mandatos de governador de São Paulo fazendo o sucessor. Em síntese, talhado para o cargo, qualquer cargo.
Flávio Dino é destaque desde a magistratura, êxito repetido como governador e, quiçá, senador e ministro da Justiça e Segurança Pública. Está acima de partidos, com discurso parecido com o de Lula 3, mais forte para o canhoto, como qualificam os bolsonaristas, que nos 2 primeiros mandatos.
Rui Costa é um dos assombros que o PT da Bahia causou no continente, com seguidas administrações vitoriosas. Vinha muito bem com Jaques Wagner até aprimorar em definitivo com Costa e atingir o impossível: seu afilhado Jerônimo Rodrigues derrotou o favoritaço ACM Neto. Afamado conciliador, Costa pegou a Casa Civil para mostrar se é isso tudo mesmo. Se for, que use o sincretismo da boa terra nas orações para Lula o escolher.
Tarcísio de Freitas foi o melhor fruto da equipe de Bolsonaro, que o lançou para quebrar a sequência do PSDB no governo de São Paulo. Deu certo. O desafio agora é outro: manter o nível da excelente atuação de João Doria, que precisa retornar à política, não por ele, mas por ela. Ao matar a candidatura de Doria ao Planalto, o PSDB foi cremado junto. Tarcísio é a esperança da direita que dialoga e realiza.
Romeu Zema deve ter lido os clássicos de Shakespeare e aprendido a se livrar da comédia de erros que tradicionalmente tem sido a oposição. Tenta marcar pontos com críticas a Lula, engatinhando no risco de ficar muito barulho por nada. Reeleito governador de Minas em 1º turno, apoiou Bolsonaro, mas não evitou-lhe a derrota. Precisa nacionalizar o prestígio para a vontade presidencial não ser apenas o sonho de uma noite de verão.
Wellington Dias conquistou a área social, a preferida de Lula. Dias fincou estrelas do PT no governo, prefeituras e bancadas do Piauí, mesmo com adversários em alto patamar, como Ciro Nogueira, cujo talento para negociação evitou o impeachment de Bolsonaro e lhe dá polpudo quinhão da militância. Dias e Nogueira estão em lados opostos, mas em campo. O jogo já esteve para um, agora mudou para o outro e só urnas dirão como termina.
Fernando Haddad recebeu de Lula as oportunidades que a companheirada busca. Prefeito de São Paulo? Chama o Haddad. Presidente com Lula preso? Chama o Haddad. Governador paulista? Chama o Haddad. Ministro da Educação ou da Fazenda? Chamou o Haddad. Chamaria Haddad de novo?
Aloizio Mercadante foi candidato a vice-presidente com Lula em 1994. Está no BNDES. Se o presidente da República deixá-lo transformar o banco de fomento realmente em nacional, realmente em fomentador do desenvolvimento econômico e realmente alavancador das políticas sociais, será um player.
Marina Silva é uma rebelde com causa que teve chance em 2014, após a morte de Eduardo Campos. O marketing de guerrilha do PT cortou-lhe as asas. Reapareceu no Ministério do Meio Ambiente com a preservação continuando a ser moda internacional. Se outros temas são fashion week, meio ambiente é fashion century desde o século 20. Caso Marina se sobressaia, pode ser que Lula lhe devolva a chance que o petismo tomou.
Simone Tebet, ótima novidade da disputa de 2022, foi decisiva para o 1,8 ponto de vantagem do 13 sobre o 22. Não volta ao Senado pelo Mato Grosso do Sul por causa da vitalidade do bolsonarismo, no qual é vista como traidora. É mais fácil ganhar para presidente no país que para cargos majoritários no Estado.
Além de Tebet, o MDB tem 2 astros das gestões, Renan Filho e Jader Filho. Quando entram “gestões” de Executivo, tira o retrato dos velhos, bota no mesmo lugar o dos primogênitos de Calheiros e Barbalho. Os pais presidiram o Senado, os herdeiros podem presidir a República –no caso de Jader, há ainda o aplaudido governador Hélder, de seguidas administrações de sucesso no Pará. Se Renan, o filho, tiver no Ministério dos Transportes o êxito de seus mandatos no Estado, brevemente Renan, o velho, será o simples pai do presidente. A grandeza do momento de alguém se ressalta até por seus adversários. É o caso dos Calheiros, que têm em Arthur Lira um opositor à altura.
Ciro Gomes, conterrâneo de Alckmin, destacou-se a partir do Ceará, onde foi prefeito de Fortaleza, governador, saiu para ser ministro de Itamar Franco (Fazenda) e Lula (Integração Nacional). Diz que não será candidato novamente. Há quem acredite. A minoria.
Com a débâcle em São Paulo, os tucanos não estão enterrados de bico pra baixo graças a 3 governadores, principalmente Eduardo Leite, reeleito no Rio Grande do Sul. Pela juventude (37 anos), consegue esperar o Brasil evoluir. Mais novo que ele, o coach Pablo Marçal (35) foi abatido em 2022 por problemas partidários. As multidões que junta, presenciais e virtuais, sinalizam que tem potencial. São milhões de seguidores nas redes sociais, assim como os do apresentador de TV Danilo Gentili, outra incógnita. Por isso, entre os jovens com expertise há o case insuperável de Eduardo Paes, que cuida de um lugar feito pessoalmente por Deus, o Rio de Janeiro. E cuida bem, cuida pelo 5º mandato seguido, 3 deles como prefeito.
Encerrada a Era Luiz Inácio, o nome na esquerda passa a ser Rosângela Lula da Silva, a Janja, porque o lulismo é maior que o petismo. Janja não se resume a mulher de Lula. Graduou-se em Ciências Sociais e fez pós em História, ambas na Federal do Paraná. Professora universitária, tem MBA em Gestão Social e Sustentabilidade. Entrou em Itaipu por seleção pública. Filiada ao PT desde 1983, aos 17 anos, equipara-se à socióloga Ruth Cardoso, que deu a Fernando Henrique a felicidade de ser casado com ela por mais de meio século. Das 37 mulheres de chefes de governo, no Império e na República, 4 fizeram curso superior – Ruth, Janja, Marcela Temer e Rosane Collor. Com Janja, espera-se socialismo parecido com o de nações nórdicas, como Dinamarca e Finlândia, comandadas por mulheres. Seria um misto da alemã Angela Merkel com a chilena Michelle Bachelet.
Quando “Retrato do velho” foi escrita, em 1950, a expectativa de vida de homem era de 45,3 anos. Para homens, em 2022, chegou a 72,2 anos. Getúlio odiou ser chamado de velho, ainda que seguido do carinhoso diminutivo:
“Osorriso do velhinho
faz a gente se animar”
O animado Vargas contava 23 anos acima, ou seja, 50% além da expectativa de vida. Pelas projeções de agora, estaria com 109 anos de idade. Portanto, aos 77, Lula é um menino, Bolsonaro (67) idem, Janja (56) é teen. Talvez por isso Lula tenha desistido de desistir. Na semana passada, desanimou a turma do contra: “Se estiver uma situação delicada e eu estiver com saúde, posso concorrer”. Antes, havia definido o próprio corpo: “Saúde perfeita, energia de 30 e tesão de 20”. Sendo verdade, o sorriso do velhinho faz o PT se animar.
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