Os prejuízos causados pela Covid-19 não estão apenas naqueles que se pode mensurar, como as mortes causadas diretamente pelas pessoas infectadas pelo vírus, mas residem também nos impactos que indiretamente surgiram como um retrato das medidas que foram adotadas para tentar conter os casos da implacável doença.
Esse foi o tema tratado por uma reportagem do jornal norte-americano The New York Times, que conversou com famílias arrasadas por casos de suicídio ocorridos durante a pandemia, em histórias que demonstram os danos psicológicos causados pelo longo período em isolamento.
Uma dessas histórias contadas pelo NY Times foi a de Joshua Morgan, um jovem britânico que havia concluído seu mestrado em Engenharia e que tinha esperança de, mesmo na pandemia, encontrar um emprego, sair da casa de sua mãe e começar a vida. Porém, à medida que as restrições se arrastaram e nenhum emprego surgia, Joshua começou a ficar abatido, segundo a irmã.
O jovem e sua mãe contraíram o coronavírus em janeiro, forçando-os a ficar em quarentena em seu pequeno apartamento em Londres por mais de duas semanas. Preocupados com o que ele dizia, amigos o encaminharam para serviços de saúde mental. Entretanto, antes do fim da quarentena, o jovem tirou a própria vida.
– Ele parecia tão desanimado. O custo da pandemia foi a vida do meu irmão. Não são apenas pessoas morrendo em um hospital, são pessoas morrendo por dentro – disse sua irmã, acrescentando que ele disse que se sentia preso e que queria sair de casa.
No Reino Unido, onde Joshua morava, ao menos 126 mil pessoas já morreram de Covid. Esse números porém, é apenas a parte danosa calculável da pandemia. Outro dado, aquele relativo ao impacto psicológico de meses de isolamento e sofrimento global, que para alguns foi fatal, é difícil de mensurar.
O Japão, por exemplo, viu um aumento no suicídio entre mulheres no ano passado e, na Europa, especialistas em saúde mental relataram um aumento no número de jovens expressando pensamentos suicidas. Nos Estados Unidos, muitas salas de emergência enfrentaram um aumento repentino nas admissões de crianças e adolescentes com problemas de saúde mental.
As famílias enlutadas dos jovens que morreram durante a pandemia são assombradas por questões como se os bloqueios – que não apenas fecharam lojas e restaurantes, mas obrigaram as pessoas a ficar em casa por meses – tiveram algum papel nos casos de problema de saúde mental e, por conta disso, estão pedindo mais apoio para a saúde mental e prevenção do suicídio.
– A saúde mental se tornou uma palavra da moda durante a pandemia e precisamos mantê-la assim – disse Annie Arkwright, cuja filha de 19 anos, Lily, morreu por suicídio no oeste da Inglaterra em outubro.
Embora as pessoas possam ter sentido uma sensação de união durante os primeiros bloqueios, o sentimento começou a se desgastar para alguns quando ficou claro que as restrições afetavam mais os grupos desfavorecidos, incluindo muitos jovens, com mais força.
– Se você é jovem, está em busca de esperança, mas o mercado de trabalho [com os bloqueios] ficará restrito e as oportunidades de construir sua vida serão menores – disse o Dr. Rory O’Connor, professor de psiquiatria da Universidade de Glasgow, especializado no estudo do suicídio.
Aliado ao problema de saúde mental, os especialistas em saúde mental também alertaram sobre um aumento no uso de drogas, jogos de azar ou automutilação. Uma pesquisa do CDC, órgão americano de saúde, em junho do último ano, descobriu que os adultos jovens experimentaram um aumento no uso de substâncias e ideação suicida.
– Imagine um jovem em uma sala pequena, que faz o curso online e tem vida social limitada devido a restrições. Eles podem ser tentados a consumir mais drogas ou beber mais álcool, e podem ter menos atividade física, o que pode contribuir para os sintomas de depressão, ansiedade e sono insatisfatório – disse Fabrice Jollant, professor de psiquiatria da Universidade de Paris.
Tentando enxergar as boas circunstâncias mesmo em um momento de perda, os amigos de Joshua Morgan, um jovem que eles chamavam de confiante e gentil deu-lhes uma decisão. “Josh sempre disse: um dia você vai conseguir”, disse sua amiga Sandy Caulee, que completou: “Ao menos nós, vamos, por ele”.
No Brasil, o Centro de Valorização da Vida (CVV) é uma das instituições que dão apoio emocional e trabalham para prevenir o suicídio. Para pedir ajuda, ligue para o número 188 ou acesse o site do CVV.
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