Insetos triatomíneos, popularmente chamados de barbeiros, são os transmissores de Trypanosoma cruzi, agente etiológico da doença de Chagas. Por isso, ao encontrar um inseto suspeito que se pareça com um barbeiro é preciso ter cuidado.
Para ajudar a população a reconhecer e lidar corretamente com esses vetores, o Portal da Doença de Chagas, da Vice-Presidência de Pesquisa e Coleções Biológicas da Fiocruz (VPPCB/Fiocruz), lançou a seção ‘Achou um barbeiro?’.
A página reúne três ferramentas para auxiliar a população a identificar os vetores e localizar o Posto de Informação em Triatomíneos (PIT) mais próximo, onde é possível entregar insetos suspeitos para correta identificação.
Uma das especialistas à frente da iniciativa, a chefe do Laboratório de Biologia de Tripanosomatídeos do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz), Samanta Xavier, alerta para a importância de reconhecer os barbeiros.
“Se um barbeiro é encontrado dentro de casa ou no entorno, é importante adotar medidas para evitar o contato com o inseto e a contaminação de alimentos”, diz a pesquisadora.
“Não se deve tentar matar ou esmagar o inseto, porque isso pode aumentar o risco de infecção. Em lugar disso, é indicado pegá-lo com cuidado, protegendo as mãos com luva ou saco plástico e colocar em um pote fechado para entregar no PIT mais próximo ou para um agente de endemias ou de saúde da localidade. Quando não for possível entregar o inseto, uma alternativa é realizar a identificação por meio do envio de uma fotografia”, explica Samanta.
No Portal da Doença de Chagas, a seção ‘Entregue pessoalmente’ traz detalhes sobre a forma correta de capturar o barbeiro e um mapa onde é possível localizar um PIT para entregar o inseto.
Chamada de ‘PITs Maps’, a ferramenta foi desenvolvida pelo Laboratório de Biologia de Tripanosomatídeos do IOC em parceria com a Plataforma Institucional Biodiversidade e Saúde Silvestre da Fiocruz e o Instituto Militar de Engenharia (IME), com apoio do Programa de Pesquisa Translacional Fio-Chagas.
Os PITs são definidos pelas prefeituras, incluindo pontos fixos e volantes. Exemplo: agentes de endemias e de saúde, serviços de saúde, instituições de pesquisa, escolas, igrejas e lideranças comunitárias podem atuar como PITs.
De forma interativa, o ‘PITs Maps’ pode sugerir o ponto mais próximo a partir da localização do usuário. Também é possível navegar pelo mapa e fazer busca por endereço.
A ferramenta já apresenta a localização de todos os PITs no Ceará e no Rio Grande do Sul. Os estados participaram da etapa piloto do projeto. Ao todo, 856 pontos foram mapeados no Ceará e 497 no Rio Grande do Sul.
Para os demais estados, o mapeamento está em andamento, com pelo menos um ponto identificado nas unidades da federação: Acre, Bahia, Mato Grosso, Minas Gerais, Pernambuco, Piauí, Rio de Janeiro, Rondônia e Santa Catarina.
“O objetivo do projeto é facilitar a localização dos PITs pela população. A entrega dos insetos suspeitos de serem barbeiros é importante para confirmar a identificação e investigar se os vetores estão infectados, o que acende o alerta para reforçar ações de controle”, enfatiza Samanta.
Os insetos recebidos nos PITs são encaminhados para o laboratório de referência da região, onde podem ser identificados e examinados para detectar a presença do parasito Trypanosoma cruzi, causador da doença de Chagas.
O resultado das análises é informado à população pelo agente de saúde ou de endemias da região, que realiza as ações de controle e orientação necessárias caso seja confirmada a presença de barbeiros.
Além de indicar o local dos PITs, o Portal da Doença de Chagas oferece outras duas ferramentas para ajudar a população a identificar os vetores.
Na seção ‘Envie uma foto’, é possível anexar a imagem do inseto encontrado, que será analisada por especialistas da Fiocruz. Atualmente, o serviço é realizado pelo chefe do Laboratório Nacional e Internacional de Referência em Taxonomia de Triatomíneos do IOC, Cleber Galvão, com o apoio de Samanta Xavier.
Já a seção ‘Identifique o inseto’ direciona o usuário para o aplicativo Triatokey, desenvolvido pelo Instituto René Rachou (Fiocruz-Minas).
A ferramenta online auxilia o cidadão a fazer a identificação do inseto, diferenciando os barbeiros – que se alimentam de sangue e podem transmitir o Trypanosoma cruzi – de outros percevejos – que se alimentam de plantas ou de outros insetos e não apresentam risco de infecção para os seres humanos.
Sobre os barbeiros
Os insetos triatomíneos são um tipo de percevejo que se alimenta do sangue de animais vertebrados, podendo picar animais silvestres e domésticos, além do ser humano.
Mais ativos à noite, os triatomíneos costumam picar as partes do corpo que ficam descobertas, como o rosto. Por isso, ganharam o apelido de barbeiros.
A doença de Chagas é causada pelo parasito Trypanosoma cruzi.
O Instituto Oswaldo Cruz abriga um dos maiores acervos de vetores da doença de Chagas do mundo. Criada em 1909, a Coleção de Triatomíneos reúne milhares de exemplares de insetos do Brasil e de diversos países. Foto: Josué Damacena
Os barbeiros não nascem infectados por esse microrganismo. Eles adquirem T. cruzi ao picar animais ou pessoas infectadas. Então, se tornam infectivos e podem transmitir o parasita.
“Os barbeiros estão envolvidos nas duas formas mais frequentes de transmissão no Brasil, seja pela picada do inseto ou pela ingestão de alimento contaminado. Por isso, é importante ter o conhecimento dos ambientes onde esses insetos estão presentes”, afirma Samanta.
A forma tradicional de transmissão envolve a picada do barbeiro. Durante ou após a picada para se alimentar de sangue, o inseto pode defecar sobre a pele. Ao coçar o local da picada, as formas infectivas do parasito que foram eliminadas pelas fezes e/ou urina do inseto podem entrar em contato com mucosas ou regiões feridas e penetrar no organismo.
Atualmente, a contaminação de alimentos é a forma mais comum de infecção. Isso ocorre quando barbeiros ou suas fezes são triturados acidentalmente, por exemplo, na preparação de alimentos.
Na região Norte do país o consumo do suco de açaí in natura é o alimento mais envolvido na transmissão vetorial oral, mas já foram registrados casos de doença de Chagas aguda (DCA) com outras frutas, como caldo de cana em um surto de DCA em 2005, em Santa Catarina.
Fonte: Fiocruz
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