Exclusivo! Discurso constrói realidade. A invenção do passado

Doutor em História, Odemar Leotti lança obra seminal. Linguagens Cuiabanas Revalidadas

O discurso constrói a realidade. É o que afirma o doutor em História, da Universidade Federal de Rondonópolis, Odemar Leotti [MT]. Na obra seminal ‘Linguagens Cuiabanas Revalidadas’. O recorte temporal é de 1919 a 1934, sublinha o intelectual. Pela Pontes Editora, diz. Em 2021, sem data definida, pontua. Com as múltiplas narrativas do campo da História, explica o autor.

Com a utilização dos conceitos de discurso, invenção do passado e tempo histórico.

 

O pesquisador, celebrado no mundo da academia e da historiografia, tece a sua teia. Como o fio de Ariadne. O que é usado por Teseu. Para não se perder no labirinto de Minotauro. Um exercício de aprendizagem. À produção historiográfica. Do Brasil. Com análises da edificação do que classifica como ‘o ser mato – grossense’. Uma pesquisa fundada na História Cultural.

Das mentalidades.

O historiador analisa ainda que o olhar etnocêntrico aponta que o espaço do interior seria o dos índios bravios. Assim como dos supostos ‘povos rudes’, observa com uma ferramenta da antropologia histórica e social. Uma construção teórica, uma narrativa hegemônica, de autoafirmação dos classificados como ‘civilizados’, pontua o docente de Mato Grosso.

O olhar para a diferença significava para definí – lo como inferior. Um suposto selvagem.

Desconstrução
De Rondonópolis, o historiador Odemar Leotti informa ao portal de notícias, com exclusividade, que a eventual desconstrução do mito do homem selvagem não teria sido seguida do necessário e indispensável banimento dos seus conceitos constituintes. A ‘desmitologização’ gradativa é decorrente da extensão da apreensão do conhecimento, dispara o escritor.

Legenda: Indígenas
Serviço
Lançamento: livro
Gênero: História e antropologia social
Editora: Pontes
Autor: Odemar Leotti
Ano: 2021
Título: ‘Linguagens Cuiabanas Revalidadas’

Especial
Leia trecho da obra ainda inédita

O espaço do interior continua sendo o dos “índios bravios” e dos “povos rudes” e que era um objeto construído como autoafirmação dos considerados como civilizados. Momento em que o olhar para a diferença cultural considerava o diferente de si como inferior e, finalmente, como
Selvagem que necessitava ser organizado em um todo coerente e funcional. Segundo Hayden White em Trópicos do Discurso. Ensaio sobre a crítica da cultura:

Para White: “Se não sabemos o que é a ‘civilização’, sempre podemos encontrar um exemplo do que ela não é […] no passado, quando os homens não tinham certeza da qualidade exata do seu senso de humanidade, recorriam ao conceito de estado selvagem para designar uma área de subumanidade que se caracterizava por tudo o que esperavam que não fossem. […] a vitalidade de qualquer cultura depende do seu poder de convencer a maioria dos seus partidários de que é a única maneira possível de satisfazer-lhes as necessidades e realizar as aspirações. Uma dada cultura só é vigorosa na medida do seu poder de persuadir o seu membro menos dedicado de que as suas ficções são verdades. Quando os mitos são revelados como as ficções que são, então, no dizer de Hegel, tornam-se ‘uma forma de vida obsoleta’.

[…]. O desmascaramento dos mitos como o do Homem Selvagem nem sempre foi seguido do banimento dos seus conceitos constituintes, mas antes de sua interiorização. […] Em parte, a desmitologização gradativa de conceitos como ‘estado selvagem’, ‘selvageria’ e ‘barbárie’ tem sido decorrência da extensão do conhecimento àquelas partes do mundo que, embora relativamente conhecidas (mas não realmente conhecidas),serviram originariamente de estágios físicos em que a imaginação ‘civilizada’ poderia projetar as suas fantasias e ansiedades. Dos tempos bíblicos aos dias de hoje, a noção de Homem Selvagem esteve associada à ideia de região selvagem – o deserto, a floresta, a selva e as montanhas -, aquelas partes do mundo físico que ainda não haviam sido domesticadas ou demarcadas para a domesticação de algum modo significativo (WHITE, 1994, p. 171-173).