Ibama é o carrapato que balança o cão. Leia agora a dura crítica de Demóstenes Torres!

Foto: Geraldo Magela

É de dar dó uma terra com tantas possibilidades ficar atolada no atraso por causa de apego à indecência da militância, escreve Demóstenes Torres

O Brasil desenvolveu a incrível mania de andar na contramão do mundo. Os exportadores de petróleo buscam alternativas de renda para a redução drástica do consumo de combustíveis fósseis. E o país do Ibama? Recusa-se a extrair de suas reservas enquanto existe quem compre.

Por que país do Ibama? Porque não é o Ibama que é do Brasil, o Brasil é que tem sido do Ibama.

Dentro das fronteiras náuticas nacionais, sobram os recursos que tanta falta fazem no continente. O instituto impede a exploração, mas “a partir desse momento, meu povo vai pensar”, canta Eliana Pittman na música de João Nogueira “Das 200 pra lá”, de 1971. “Esse mar é meu, leva seu barco pra lá”. A referência era às milhas definidas em 1970 pelo governo como extensão do território no oceano.

Enquanto a população não pensa, o barco do Brasil afunda e não admite estar errado. De janeiro a agosto de 2023, as vendas dos 254 modelos de veículos elétricos subiram 76% em relação aos 8 primeiros meses de 2022, segundo a ABVE, a principal entidade do setor.

O acesso está se democratizando, os preços caíram às vezes 16% em comparação com 2022. Os carros populares entraram na modernização. Eletrificados e híbridos continuarão barateando depois da chegada dos chineses –BYD, a nº 1 do mundo no ramo, vai investir R$ 3 bilhões em fábrica na Bahia e começa a montar antes das próximas eleições.

O negócio agrada também ao meio ambiente e, em consequência, à vida. Sem os elétricos, a 2ª década do século fechou com a morte de 7 milhões de terráqueos todos os anos por males que saíram dos escapamentos dos veículos. É uma letalidade superior à das armas, de acordo com dados da OMS (Organização Mundial de Saúde). Não há coração que suporte tanto gás tóxico. Nem pulmão. Nem cérebro.

Tudo isso ocorrendo e o Brasil acha que a paciência com os combustíveis tóxicos vai durar para sempre. Quer dizer, não o Brasil inteiro, só a parte governada pelo Ibama… que infelizmente é o país inteiro. A formiga manobra o elefante, todavia o mamute estatal tem limite, o das 200 milhas rimadas por João Nogueira ou das 12 (22 km) da Lei 8.617 de 1993.

Uma faixa de Atlântico denominada Margem Equatorial, do Amapá ao Rio Grande do Norte, é o novo pré-sal. Há, sob a água, a riqueza que os moradores não têm na superfície. Publiquei no Poder360, em maio, o drama das vítimas com o instituto de meio ambiente. Havia poucos dias, o Ibama impedira a Petrobras de “realizar uma perfuração de teste no mar” e lembrei a frase do presidente da companhia, Jean Paul Prates:

“A Potiguar [uma das 5 bacias da Margem Equatorial] já tem 437 poços, sendo 249 exploratórios e 188 de produção”. São mais de 700, contadas as outras 4. E 8.680 em terra, informou o Poder360.

Ainda assim, o Ibama mostrou quem ordena e ordenha o Brasil e vetou uma perfuraçãozinha que fosse. Na 6ª feira (29.set.2023), com estardalhaço de quem acaba de descobrir a América, o instituto encobriu a polêmica noticiando que havia autorizado a exploração. Na 2ª feira (2.out.2023), entretanto, o presidente do embuste assinou a lorota: era só a renovação da licença de 2 poços na Bacia Potiguar, aquela que já tem 437+8.680.

Ou Lula toma conta ou Marina Silva aproveita o home office do marido de Janja e se apossa de vez do Palácio do Planalto. Enquanto o Ibama brinca de administrar, o Brasil perde oportunidades.

Doutor em economia industrial e especialista em energia, Adriano Pires calcula que a Margem Equatorial pode render mensalmente em royalties R$ 7,8 bilhões, porque “tem o Amapá, uma rua, e depois a Guiana, e na Guiana só Exxon descobriu 5 bilhões [de barris] de reserva, devem ter 10 bi de reserva, sendo que o pré-sal tem 14 bi de barris”.

Que país é esse a rejeitar montanhas de dinheiro? É o mesmo em que os portugueses chegaram há 523 anos e produziam cana-de-açúcar e minério. Meio milênio depois, continuamos sobrevivendo de commodities, inclusive cana-de-açúcar e minério.

Houve esperança de sair da Idade Média quando o vice-presidente Geraldo Alckmin foi nomeado ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços. No entanto, o problema permanece: se o cargo de chefe do Ibama é maior que o de Lula, imagine vice-presidente e ministro…

Do fundo do poço econômico, o Brasil vê o Ibama continuar cavando. Portanto, logo encontrará a indústria nacional. O setor químico opera com a menor capacidade (67%) desde que é medida, contou ao Poder360 Fátima Coviello, diretora da Abiquim, a entidade máxima desse mercado.

O crescimento fabril empacou. Os números pós-covid são piores inclusive quando comparados aos tempos de pandemia. Quando se mexe, é para baixo: dados recentes do IBGE apontam queda de 0,4% no ano.

Digamos que ocorra milagre de Roque Santeiro e o país reverta a desindustrialização, melhore e amplie rodovias e ferrovias, acabe com a burocracia e os juros altos, apareça do nada energia elétrica suficiente, a mão de obra se qualifique, produtividade imensa, tecnologia de ponta… será impossível exportar os frutos dessas maravilhas. Simplesmente os portos não aguentam.

Supunha-se que os novos gestores fossem se concentrar em unir e reconstruir. Negativo, base. Alguns começaram enfiando ideologia na infraestrutura, amaldiçoando as fatias que funcionam, as privatizadas, e querendo sociologizar algarismos. Não dá. O calado é de 15 metros e os grandes navios só chegam se for de 17, não adianta rezar para São Marx, tem de escavar. Quer dizer, se o Ibama permitir.

“Esse mar é meu”, diria o relatório do instituto se apossando do verso de João Nogueira. Sai pra lá o radicalismo, responderiam as necessidades do brasileiro junto com o genial sambista: Tem rede amarela e verde no verde azul desse mar”.

Uma terra maravilhosa, com tamanhas possibilidades, com oportunidades maiores que as necessidades, é de dar dó ficar atolada no atraso por causa de uns e outros apegados à indecência da militância. O Ibama paralisar o Brasil é como o cachorro urinar no poste, como o poste presidir um órgão que atrapalha 215 milhões de pessoas. Como o rabo balançar o cachorro. Como o carrapato mover o rabo que balança o cachorro.