Monsenhor Báez: “Opressor nenhum tem um final feliz e ditador nenhum triunfa para sempre”

Monsenhor Silvio José Báez, Bispo Auxiliar de Manágua, disse neste domingo que a injustiça prevalece no mundo, pelo que exortou os crentes a não se vingarem dos opressores.

“Infelizmente, ainda existem carrascos e vítimas, opressores e oprimidos. E a reação natural é retribuir a violência recebida, agir com o agressor atacando-o da mesma forma e maltratando quem nos maltratou. Mas, desta forma, o mal continua aumentando e sua espiral diabólica continua destruindo pessoas, famílias e sociedades inteiras”, disse Monsenhor Silvio Báez, durante sua Eucaristia.

Nas leituras bíblicas deste domingo, Jesus pede perdão e amor, abolindo assim a lei do “olho por olho e dente por dente”.

“Enquanto não houver um freio, um dique, sobre a violência, ela continuará se impondo e causando estragos. Hoje Jesus nos propõe a não dar força ao mal e não aumentar a violência com violência. É isso que significa sua famosa frase: “Quem lhe der um tapa na face direita, dê-lhe também a outra.” Jesus não se propõe a agir passivamente e permitir que continuem a nos bater. O que Jesus nos propõe é um novo estilo de reação à ofensa, uma nova forma de resistência ativa ao mal e à injustiça”, refletiu o cardeal.

“Jesus nos convida a não reagir contra o agressor da mesma forma violenta com que ele agiu contra nós. Não é um apelo à resignação, nem à passividade perante o mal recebido. O ideal evangélico não é a submissão dos medrosos, nem a indiferença dos abastados. Jesus também não nos pede para ignorar as exigências da justiça, mas sim para não confundir justiça com vingança. Não se trata de aceitar e aprovar o mal, mas de nos colocarmos numa perspectiva superior, que vai além da lógica do ódio e da vingança”, acrescentou dom Báez.

Durante sua mensagem, Monsenhor Silvio José também exortou os fiéis a não guardar rancor de quem os feriu.

“Amar o inimigo não é sentir afeto ou simpatia por aquele que nos feriu. O inimigo ainda é alguém de quem podemos esperar mal e é muito difícil mudar os sentimentos do coração. É natural não sentir compaixão por alguém que nos magoou. O que Jesus nos pede não é alimentar o ódio e a sede de vingança quando nos sentimos feridos, maltratados ou humilhados. Amar o inimigo não é uma lei civil, mas uma proposta à nossa liberdade e ao nosso coração”, exortou.

A exortação do Bispo Auxiliar de Manágua ocorre uma semana depois que 222 presos políticos foram destituídos de sua nacionalidade e também exilados abruptamente nos Estados Unidos.

“Amar o criminoso, o tirano e o opressor não significa aprovar seus crimes e ignorar sua maldade, nem significa esquecer o imenso sofrimento que causaram. Amar o inimigo não é tolerar a injustiça, nem é isentar o culpado de responder pelos seus crimes perante a justiça, muito menos desistir confortavelmente da luta contra o mal. Amar o inimigo não é calar timidamente e fingir não entender sua crueldade e seus crimes. Isso seria, antes, indiferença e covardia. Amar o inimigo é renunciar à vingança e ao ódio”, exortou dom Báez.

Nesta quarta-feira, outros 94 nicaraguenses, entre opositores, jornalistas independentes, defensores dos direitos humanos e opositores, foram destituídos de sua nacionalidade e o regime também ordenou o confisco de suas propriedades.