Onde se lê: “Salve a Amazônia!”, Leia-se “Salve o Povo Amazônico!”

Trombeteadas internacionais à parte, utilizar os vocábulos Amazônia e progresso no mesmo texto parece ser desconcertante e polêmico, para dizer o mínimo. Imperiosamente, a ideia de que o Brasil não atua de forma competente para garantir que o imenso “tapete verde” do mundo seja salvo, preservado, conservado para as gerações futuras suscita um proselitismo quase que panfletário, com discursos formidáveis, em parte, oriundos de quem não é Amazônida, nunca andou num “casco” (canoa) e se quer imagina tomar açaí com charque frito.

Imergir na história da Amazônia é compreender que a exuberante riqueza mineral, vegetal, hidrográfica da região não propiciou (e ainda não propicia) efetivo desenvolvimento ao cotidiano das pessoas que nela habitam. O que se observa de fato, desde o processo de colonização, internacionalização e avanço sobre o espaço amazônico, sob viés governamental e empresarial, nacional e internacional, é que o objetivo de incorporá-la ao restante do país (e do globo) pouco levou (e leva) em conta os que nela residem e que dela dependem para sobreviver.

Nesse percurso, as palavras de ordem proferidas do mundo para a Amazônia sempre estiveram (e estão) relacionadas com a preocupação sobre a exploração desenfreada dos recursos naturais, desmatamento, degradação da fauna e da flora – não minimizando a importância e a necessidade de se debater sobre tais assuntos ou de se estabelecer desenvolvimento com sustentabilidade para a região, a partir de critérios transformadores. A questão é a forma como se relega as pessoas que vivem na Amazônia. É algo surreal!

A exclusão do amazônida em um território geograficamente estratégico para a nação e mundialmente cobiçado por suas riquezas naturais é, no mínimo, descabido. Teoricamente, as pessoas que vivem na Amazônia deveriam ser treinadas e instrumentalizadas para assumirem o papel de “guardiões” da floresta, mas a história os renega veementemente: residir às margens do majestoso Amazonas e não ter água potável; conviver com a pobreza e a fome cercado da maior biodiversidade do planeta; fazer parte do Sistema Interligado Nacional de Energia, abastecer outras regiões e ficar “no escuro” por semanas. E internet? Nesse mérito, milhares de amazônidas sequer sabem o significado do número de Gs utilizados nos grande centros do país. Sentido?  É claro que não existe nexo nisso.

É indispensável e urgente o desenvolvimento técnico e científico àqueles que vivem na floresta, às margens dos rios, nas cidades sem infraestrutura básica e que, sim, almejam garantir sua participação social de forma mais competitiva com o restante do país (e do mundo).  Negligenciar aos amazônidas a capacidade de administrar as riquezas que os cerca é manter-se preso às amarras da trágica política imposta pelos colonizadores, política que gerou miséria e atraso.

Além de educação, saúde, segurança e infraestrutura local, os debates sobre as políticas públicas para a Amazônia tem no progresso tecnológico o foco para a melhoria da qualidade de vida na região. É salutar a ideia de qualificar para desenvolver, para empreender, para manter a floresta de pé. Aliás, o conhecimento técnico sobre o manejo da floresta é um saber preciosíssimo. É a sonhada consciência ambiental associada ao empreendedorismo e à atração de investimentos. É sinônimo de exportação de madeira, frutas, cipós, perfumes, óleos, sem queimadas, sem desmatamento, sem deterioração do meio ambiente natural. É desenvolvimento com racionalidade.

O século XXI exige novos métodos no uso dos recursos naturais. O respeito à dignidade do povo amazônida exige a aplicação de mecanismos modernos e de investimentos sólidos em tecnologia e em diversas áreas de estudo, a exemplo, a engenharia agrônoma e a florestal, essas que são essenciais para a Amazônia e que constituem enorme diferencial na evolução das atividades econômicas nela desenvolvidas. A desenfreada exploração da floresta, sem técnica e sem preocupação com os impactos ambientais causados precisa dar espaço às benesses da fruição plena da relação do meio ambiente equilibrado com os direitos à dignidade humana do amazônida.

 

Euridece Pacheco Ruella

Prof.ª. Ms.ª em Direito Ambiental e Políticas Públicas

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Antonio Roberto de Souza Góes

Tenente do QOABM/AP, graduado em Gestão Pública