Por que há 6 milhões de mortos escondidos embaixo de Paris?

Paris: a cidade conhecida por ser a Cidade Luz do mundo, já que durante séculos as mentes mais iluminadas em diversas vertentes artísticas foram atraídas para essa cidade, assim como os insetos são atraídos pelas lâmpadas.

De músicos e bailarinos aos mais célebres pintores, escultores e arquitetos que acabaram se instalando no local, Paris acabou se tornando o maior centro de artes, do bom gosto e do refinamento do mundo.

A cidade já foi a capital do Reino dos Francos, já foi a cidade mais populosa da Europa – o que mudou após Paris enfrentar a Peste Negra – sofreu inúmeras guerras, já foi o palco da maior revolução que a história conhece: a Revolução Francesa, além de sofrer bombardeios durante a Primeira e a Segunda Guerra Mundial e muito, muito mais. História é o que não falta para descrever a cidade de O Fantasma da Ópera.

E, por falar em fantasmas, sob a “Cidade Luz” reside uma outra uma Paris pouco conhecida, uma cidade obscura, úmida e cheia de segredos.

Por baixo das ruas em que transitam turistas do mundo todo há uma espécie de cidade-fantasma subterrânea, feita de ossos de mais de 6 milhões de pessoas que viveram suas vidas no local e morreram há centenas de anos.

Hoje você irá conhecer um pouco mais sobre esse local misterioso: As Catacumbas de Paris.

Localizada sob as ruas de Paris, na França, as Catacumbas constituem-se em um ossuário subterrâneo, organizado por setores no complexo sistema de túneis e cavernas que existem no subsolo da cidade.

Desde o período da ocupação romana, o subsolo de Paris foi uma importante fonte de pedras calcárias e mármore, utilizadas em construções que subsistem até hoje do lado de cima, a 20 metros de profundidade. Após a pedreira ser fechada, um grande labirinto foi formado em um sistema de túneis que chega a 400 km de extensão.

A organização do Ossuário teve início em 1785 e ocupa apenas uma parte dos túneis. Nessa época, a população de Paris crescia desenfreadamente e, apesar das igrejas conterem seus próprios cemitérios e existirem outros por toda cidade, o número de mortos ainda era maior do que o espaço disponível para descansarem: covas precisaram ser compartilhadas e as tumbas únicas estavam repletas de gente.

Sem ter onde mais cavar e com corpos em decomposição tornando o cenário cada vez mais mórbido, empilhados em pleno ar livre, Paris começou a ficar assustadora: muitas doenças começaram a surgir, sobretudo pela contaminação de rios com mais e mais corpos que eram depositados por toda parte. Em consequência, mais pessoas morriam e mais corpos surgiam, tornando a cidade praticamente uma “cidade dos mortos”. Para se ter ideia, o governo local até proibiu enterros, ideia que foi rejeitada pela igreja. Já imaginou, não poder enterrar um ente querido, de sua própria família?

Bem, o que aconteceu foi que a solução estava bem abaixo dos pés dos parisienses: no subsolo de Paris tinha espaço mais do que o suficiente, até mesmo mais do que todos os cemitérios disponíveis para transferir os corpos já existentes e ainda colocar mais.

Um planejamento minucioso foi efetuado e, em 1786 uma pilha de corpos começou a ser formada. Milhares de pessoas trabalhavam arduamente para transferir os restos mortais para o túnel. Mesmo sem pausas de trabalho, o projeto só foi terminar dois anos mais tarde.

De início os ossos eram jogados, amontoados pelos corredores. Mas, um tempo depois, decidiram que organizar seria a melhor solução para o bom aproveitamento do espaço. E o resultado não poderia ser mais impressionante: a organização foi tão minuciosa que um verdadeiro monumento foi formado, a partir dos ossos humanos.

O extenso labirinto de pedras se tornou um grande labirinto de ossos e hoje as Catacumbas de Paris se tornaram  um ponto turístico.

Um fato curioso é que a visitação é aberta em uma extensão de aproximadamente 500 metros, ou seja, 0,5% da extensão real das Catacumbas. O governo parisiense fechou os outros acessos, já que os túneis consistem em um verdadeiro labirinto com quase 400 km de extensão ligando-se um ao outro.  Uma pessoa comum pode se perder lá dentro, sem nunca mais poder achar o caminho de volta – o que, na verdade, já aconteceu e ofereceu ainda mais motivos para que outras entradas fossem definitivamente fechadas.

Um desaparecimento muito conhecido ocorreu em 1793, quando o porteiro Philibert Aspairt sumiu de seu posto. Apenas onze anos mais tarde seu corpo foi descoberto e então foi possível entender o que havia acontecido com ele: através de uma escadaria, que ficava trancada dentro do hospital, o homem teve acesso às Catacumbas, já que estava em posse das chaves. Ele acabou se perdendo e jamais encontrando seu caminho de volta, sendo que apenas mais de uma década mais tarde é que foi encontrado, já sem vida. Ninguém sabe o que levou o porteiro a entrar nesse local, mas estima-se que tenha sido por uma mera curiosidade mesmo.

Várias entradas como essas estão espalhadas por Paris e é preciso ter muito cuidado com elas: em 2017, por exemplo, dois jovens que faziam parte de um grupo de exploração urbana, os Cataphiles, que faz muitas explorações ilegais em vários pontos históricos e arqueológicos, acabaram tendo a sorte de serem encontrados após se perderem nas Catacumbas.

Além dos desaparecimentos, os túneis e galerias das antigas Pedreiras de Paris acabaram se constituindo um verdadeiro problema, já que estão localizados a cerca de 20 metros de profundidade. Nesse nível, filões de pedras por vezes desabavam, afetando a estabilidade do solo na superfície e pondo em risco as construções acima.

Para evitar este problema, foi criada a “Inspetoria Geral dos Subterrâneos” em 1777, com a finalidade de monitorar os túneis e galerias existentes para evitar que novas escavações e construções inapropriadas, sobretudo quando o metrô de Paris estava em seu projeto de construção.

Por séculos as Catacumbas serviram como cemitério e até surgiram livros mencionando o local: no romance “O Pêndulo de Foucault”, de Umberto Eco, as Catacumbas de Paris oferecem a localização secreta de um pergaminho dos cavaleiros templários.

O livro “O labirinto de ossos” de Rick Riordan, da coleção “The 39 clues”, fala sobre as Catacumbas de Paris e John Erick Dowdle, em 2014, lançou o filme  conhecido em português como “Assim na Terra Como no Inferno”, que trata sobre uma jovem historiadora que procurou, a seguir do seu pai, um tesouro nas Catacumbas de Paris.

O local ficou tão famoso que até mesmo Victor Hugo usou seus conhecimentos sobre os subterrâneos de Paris ao escrever o tão célebre enredo de “Os Miseráveis”, romance publicado em 1862.

Fonte: Mistérios do Mundo