Um amapaense que virou cidadão do mundo, a partir de uma experiência de morar em Londres e buscar especialização em marketing digital para ir à caça de turistas estrangeiros na internet, para convece-los a viajar pela Amazônia. Ângelo Percy foi para a rede mundial de computadores vender destinos amazônicos não apenas pelos rios e a mata intocada, mas mostrar que é possível desenvolver uma série de atividades diferenciadas, com muita criatividade e até simplicidade.
Essas e outras experiências ele apresentou em entrevista ao jornalista Cleber Barbosa, durante audição do programa Conexão Brasília, pela rádio Diário FM. Os principais trechos da conversa estão publicados a seguir, com os motivos para especialista estar otimista em relação ao incremento do turismo regional.
Diário do Amapá – Turismo é uma de suas paixões, é isso?
Ângelo Percy – Sim, por formação também. Sou turismólogo, formado lá pela UFPA e depois a gente montou um projeto de trazer turistas lá da Europa e de outros continentes também, mas com a proposta de conhecer a Amazônia, em cinco cidades, Belém, Macapá, Santarém, Manaus e Boa Vista. E agora estou desenvolvendo essa etapa aqui em Macapá, mas sou amapaense viu? Agente ficava muito triste em não conseguir trazer muitos turistas para cá por não ter produtos específicos.
Diário – Como assim?
Percy – Sim, produtos turísticos formatados, como dizemos. Muito potencial a gente sempre ouve falar, mas os produtos ainda não tinham. A gente começou então a criar essas parcerias fortes, principalmente com o Sebrae e o Governo do Estado para a gente formatar esses produtos e vender lá [no exterior].
Diário – O turista internacional principalmente leva isso muito a sério, especialmente entregar aquilo que se propõe a vender, como um impresso com a foto de uma bela cachoeira onde não se tem acesso regular, meios de hospedagem, não é?
Percy – Sim, sim, com certeza. Mas eles não se preocupam tanto com infraestrutura, pois sabem que a gente não tem portos, aeroportos, estradas como eles têm lá, na Europa principalmente. Mas eles querem segurança, não querem pegar doenças, querem uma preocupação personalizada, sabe? Isso já é o suficiente, então se a gente acompanhar e personalizar um destino, um roteiro especifico e depois leva-los em segurança para casa, eles irão colocar uma lembrancinha na estante e dizer que estiveram aqui, foi ótimo e até recomendarão, como uma boa experiência. E é essa experiência que a gente vende.
Diário – Bem, mas além da formação em turismo a gente sabe que você buscou se especializar em redes sociais e foi buscar na internet uma forma de agregar valor à Amazônia como destino turístico?
Percy – Exatamente. Inclusive a internet nasceu com o turismo, muitas pessoas procurando destinos para viajar e não apenas o turismo sexual, infelizmente as duas maiores vertentes da internet, e nunca deixou de ser. Claro que hoje a informação está pulverizada na internet como um todo, mas o turismo sempre foi muito buscado, os destinos, e no Google principalmente as buscas são muito grandes. Então nós decidimos que era ali que deveríamos atacar. Já não adianta mais somente o institucional vender eventos lá pra fora, já não tem mais aquele retorno. A gente tem que estar aonde o cliente está procurando. E a busca é muito grande pela Amazônia, então quando fui morar lá em Londres percebi que eles buscavam muito mas não achavam nada que transmitisse muita segurança. Quando eles procuravam pacotes na Amazônia encontravam a Amazônia Peruana, que é muito vendida inclusive lá, o marketing deles é muito apurado.
Diário – Isso nos faz lembrar que na Guiana Francesa eles também valorizam muito isso, tanto que a marca vendida nas peças publicitária é “Guiana, a Amazônia Francesa”, mesmo que ocupem um pedaço tão pequeno dela.
Percy – Exatamente, a Amazônia é tão grande, tão vasta, tão rica e a que é vendável é a Amazônia Peruana… Tão pouquinho. Inclusive em Lima eles trabalham não só a parte amazônica, como a parte oceânica e exploram bastante isso.
Diário – E a partir dessa visão crítica, veio a profissionalização da divulgação pela internet?
Percy – Sim, pois a gente já tinha essa expertise de vendas pela internet, através do site ‘soprojetos.com’, que vendia projetos de arquitetura pela internet. Isso foi o início para adaptarmos essa experiência para o turismo, nesse projeto iniciado a cinco anos e começou a dar certo e as parcerias começaram a fluir.
Diário – Com quem, por exemplo?
Percy – Principalmente parcerias institucionais, nos estados, e a gente começou a trazer turistas, especialmente para Santarém, onde a gente tem uma equipe de guias que recebiam turistas irlandeses, ingleses, norte-americanos, enfim. O interessante é que eles não se interessavam tanto quanto a gente pensa, em turismo de mata, na floresta. Eles queriam ver um turismo diferenciado, como um turismo cultural. Um exemplo é a cidade de Fordlândia, a cidade esquecida de Henry Ford, para onde levávamos grupos que ficavam fascinados por aquela história.
Diário – Esse tipo de iniciativa de agregar valor a um destino simples, pode ser visto aqui em Macapá na APA do Curiaú, onde os moradores já organizam a venda de iguarias e até água de coco às margens da estrada. É válido?
Percy – Com certeza, falamos disso outro dia até para Santana, onde é possível pegar um turista no navio, colocar numa Van e levar para comer um peixe frito, leva para passar a mão na cabeça de um boto, levar a outros destinos turísticos, devidamente acompanhado, e depois de volta ao navio para ele seguir viagem.
Diário – E o chamado turismo regional, onde estados amazônicos não rivalizem entre si, mas sim firmem parcerias que levem os turistas estrangeiros a conhecer não apenas um, mas vários destinos na região?
Percy – Sim, a Amazônia é muito grande, tanto que dizem que o nosso projeto ‘Travel to Amazon’ é ousado, pois se nem a Sudam conseguiu unir a Amazônia, como nós vamos conseguir… [risos] Mas realmente eles [os turistas] não sabem nem por onde começar, ficam perdidos. Como disse, eles querem fazer isso de forma organizada e segura, saber para onde vão, quem vai acompanha-los, como vai ser, enfim, passando essa segurança eles vão para qualquer destino que você levar dentro da Amazônia. Hoje já existem grandes agências dentro do Rio, São Paulo, Belo Horizonte que vendem pacotes para a Amazônia. Mas só vendem. Aqui eles têm que se virar, então não querem mais isso, querem uma personalização, como disse anteriormente, foi então que a gente entrou com esse diferencial.
Diário – E sobre a passagem do projeto pelo Amapá, onde já foi possível avançar?
Percy – Bem, num primeiro momento estamos mapeando os hotéis-fazendas ou as fazendas que tem potencial para virar hotel, um formato muito conhecido lá tanto que eles fazem um intercâmbio entre Europa e Estados Unidos, onde vão visitar as fazendas Cowntry, ficando hospedados um bom tempo e é essa uma das coisas que queremos fazer aqui. Tem uma fazenda ali no interior do município de Amapá que tem já essa realidade, dos búfalos, de mata selvagem, então a gente quer levantar com os proprietários dois bangalôs para começar a trazer turistas que se hospedem neles. É um começo, claro, mas estamos felizes em colocar o Amapá na rota turística internacional.
Diário – Obrigado pela entrevista e parabéns pela iniciativa.
Percy – Eu que agradeço e conclamo a todos a valorizar o Amapá como destino turístico.
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