‘Achei que era meu marido’, diz Sandra sobre ex-morador de rua

A empresária Sandra Mara Fernandes, que foi internada após ter relações sexuais com o ex-morador de rua Givaldo Alves de Souza, em Planaltina, no DF, afirmou que sofreu diversos ataques pela internet, e que somente após deixar o hospital, onde fez tratamento psiquiátrico, teve ideia da dimensão que o caso tomou no país.

Em entrevista exclusiva à Record TV, Sandra revela que foi diagnosticada com transtorno bipolar afetivo e que se encontrou com Givaldo durante um surto psicótico. Ela, que tinha uma loja de roupas, afirmou que foi obrigada a fechar o estabelecimento após receber ataques pela internet.

Em tratamento, a empresária diz que está recomeçando a vida, que entrou com um processo contra Givaldo para que ele seja proibido de dizer o nome dela. Sandra diz que ficou triste ao ter a vida devassada e receber críticas por parte de outras mulheres. Ela revela apoio do marido, dos familiares e de amigos para enfrentar a situação.

Leia a entrevista completa:

Você ficou sabendo do que estava acontecendo, da repercussão do caso?

Eu fiquei sabendo quando eu saí. Quando eu estava internada, não tive acesso, eu estava totalmente reclusa. Quando eu soube, foi um choque. Porque eu não esperava que a minha vida estivesse tão exposta. Ainda mais negativamente. Me tacharam de coisas que não condizem com a pessoa que eu sou.

Você sente hoje sua vida devastada?

Completamente devastada. Eu fui obrigada até a me desfazer da minha loja por conta dos ataques que eu recebi através da internet. [Tive que me desfazer também] do meu WhatsApp, que era ligado à empresa. Até para me restabelecer financeiramente eu fui obrigada a me desfazer do que eu mais amo, que é a minha loja.

Lá dentro de onde você estava sendo tratada, quando as pessoas chegavam para visitá-la, o que elas diziam a você?

Eu, na verdade, não tive visitas. O único meio de comunicação era meu marido. Eu falava com ele por videochamada. Os funcionários me trataram com todo o carinho e respeito do mundo. Eu tinha mais contato com outros internos, outras pessoas que estavam internadas comigo. Eu não tive acesso a informação. Mas, quando eu recobrei a consciência, eu me dei conta do que tinha acontecido comigo.

Você teve flashes do que poderia ter acontecido, é isso?

Sim. Só que eu não me lembro completamente do que aconteceu. Só depois que eu soube que não era o meu marido.

Você começou a ligar, então, lá dentro, uma coisa a outra? Percebeu que estava ali por conta daquele episódio?

Eu sabia que era por conta disso, por conta do episódio. Mas eu não tinha dimensão de quão grave tinha sido. Através da medicação que eu estava tomando, até para não pegar uma doença sexualmente transmissível, eu percebi que grave o que tinha acontecido comigo.

Como está sua saúde hoje?

Eu me sinto triste, por saber que eu vou ter que tomar uma medicação para o resto da vida. Eu achava que eu era uma pessoa totalmente saudável. Me falaram que, se eu não tomar a medicação, posso ter outro surto. Não tão grave quanto o que aconteceu, mas eu posso surtar novamente.

Você tem medo de ter outro surto?

Sim.

Você foi diagnosticada com o quê?

Transtorno afetivo bipolar.

Eles explicaram a você o que seria isso?

O que me disseram é que pode vir de uma euforia muito grande ou de uma depressão muito profunda. No meu caso, foi uma euforia muito grande, e isso me levou a ter manias. No meu caso, chegou ao surto psicótico.

Então os médicos disseram que a medicação será para o resto da vida? Você hoje faz tratamento psicológico?

Sim, faço. Eu tenho que fazer, porque o que aconteceu comigo abriu uma ferida na minha alma. É uma ferida que só com ajuda médica, psicológica, eu vou curar.

Você disse que se lembra de flashes. Você se lembra do momento em que seu marido chegou ali naquele carro? Acha que ele salvou sua vida?

Eu lembro, e foi ali que eu entrei em choque. Pois, para mim, quem estava comigo ali era meu marido. E como ele estava ali comigo e meu marido chegou. E eu acredito, sim, que ele salvou minha vida. Pois eu não sei o que poderia ter acontecido depois que eu saísse daquele carro, se eu tivesse saído daquele carro. Então ele me salvou de mim mesma.

Em um áudio que você gravou na época, você dizia que ora você via seu marido, ora via Jesus Cristo, se não me engano. Você se lembra disso?

Quando eu coloquei aquele cidadão dentro do meu carro, eu acreditava naquele momento que ele era meu marido. Quando a gente conversava, eu achava que estava tendo conversas com Deus. Então, quando meu marido chegou naquele episódio, eu acreditei que ele era só Deus. Em nenhum momento eu enxergava ele como morador de rua. Eu só via que ele era Deus, por isso que eu me ajoelho no chão, intercedendo por ele, gritando com meu marido para não matar Deus. Eu acreditava que era Deus que estava apanhando ali, que possuía o corpo daquele cidadão, e que ele estava fazendo mal para Deus.

Eu ouvi das pessoas que isso seria motivo para o Eduardo largar você, de ele deixar a família. Você alguma vez pensou que ele poderia deixar você?

Pensei. Eu pensei que ele não iria suportar. Eu sei que, para o homem, é muito difícil aceitar o que ele aceitou. Mas, ao mesmo tempo, eu acredito no nosso relacionamento. Eu acreditei e acredito até hoje. Ele sabe que eu jamais faria com ele, jamais faria isso comigo mesma. Ele sabe que, em sã consciência, eu jamais teria me submetido a isso.

O casamento de vocês, então, segue numa boa?

Nós estamos precisando de ajuda. Estamos tendo um apoio muito humano, muito humanizado em questão de apoio psicológico. É um recomeço. Não é fácil, pois criou tanto um trauma nele quanto em mim. Se eu falar que é fácil, estou mentindo. Ele teve de criar forças para cuidar de mim.

O Eduardo, seu marido, é peça-chave na sua recuperação?

Ele é fundamental. Ele é o que me protege da sociedade. Para muitas pessoas, acreditam que é um mundo novo. Mas para a gente não é. Ele já vem de um meio por ser personal, e eu por ter uma loja. Tinha uma loja. Então já era um meio que eu vivia, não com essa repercussão toda. Ele me protege de todas as forças possíveis.

Você tem uma filha de 6 anos de idade. Ela tem noção do que aconteceu? Vocês conversaram com ela?

Ela não tem noção. A gente criou uma história para protegê-la, de que eu fiquei doente. Mas ela não tem maturidade para saber quão grave foi. O que eu quero é que ela veja no futuro, por isso estou me manifestando, aparecendo, dando a cara a tapa. Ela vai ver tudo isso, e eu quero que ela tenha orgulho da mãe dela.

Fonte: R7