Gisèle Pelico, de 71 anos, vítima de quase cem estupros enquanto era dopada por seu próprio marido ao longo de dez anos, deu depoimento à Justiça da França nesta quinta-feira, 5. O caso, que envolve 51 homens, incluindo seu ex-marido Dominique Pelicot, chocou o país. “[Nas imagens] apareço inerte na cama e estão me estuprando. São cenas bárbaras”, disse ela aos cinco magistrados. “Me trataram como uma boneca de pano. Eu me pergunto como aguentei [aos estupros]”, disse no tribunal.
Em 2020, após a prisão de Dominique por filmar mulheres de forma indevida, a polícia descobriu mais de 4.000 fotos e vídeos de Gisèle inconsciente sendo abusada por dezenas de homens. Em tribunal, ela descreveu as cenas como bárbaras e expressou gratidão aos policiais por salvarem sua vida.
Os investigadores identificaram 92 estupros desde 2011, quando o casal vivia na região de Paris. Os crimes ficaram mais frequentes a partir de 2013, quando eles se mudaram para Mazan, e ocorreram até 2020. Ainda segundo a polícia, o marido da vítima fazia a mulher ingerir ansiolíticos antes dos estupros. Ele orientava os outros homens, encontrados em um site de relacionamento, que não a acordasse.
Entre os réus estão 51 homens com idades que variam de 26 a 74 anos, incluindo Dominique Pelicot, que pode pegar até 20 anos de prisão. Na maior parte das vezes, os criminosos não usaram preservativos.
Alguns réus afirmam não saber que Gisèle estava inconsciente e acreditavam participar de fantasias sexuais. Ela negou qualquer consentimento e reconheceu apenas um dos agressores além do ex-marido. “Nunca pratiquei troca de parceiros. Gostaria de deixar claro”, disse ela. “Nunca fui cúmplice nem fingi que estava dormindo”.
Ela contraiu quatro infecções sexualmente transmissíveis em consequência dos abusos. A revelação foi feita pela perita responsável pela avaliação clínica e ginecológica dela durante o quarto dia de julgamento de Dominique Pélicot e mais 50 homens, acusados de serem os autores dos estupros.
Nesta sexta-feira, 6, foi a vez de Caroline Pelico, filha do casal, chorou ao testemunhar. “Meu pai é um dos maiores criminosos sexuais dos últimos 20 anos. Minha mãe me disse: ‘Passei quase o dia inteiro na delegacia. Seu pai me drogou para me estuprar com estranhos’. Liguei para meus irmãos. Nos sentimos indefesos, choramos. Não entendemos o que estava acontecendo. Sofremos uma dor que não desejo a ninguém”, relatou Caroline.
Fonte: Jornal Opção
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