A Floresta é o Futuro: O Amapá na Agenda Climática, Energética e de Soluções Baseadas na Natureza

Foto: Philippe Gomes/Secom

O Brasil vive um momento decisivo na agenda global do clima e da transição energética. Às vésperas da COP 30, o país reafirma sua responsabilidade de liderança ambiental, enquanto busca consolidar um novo modelo de desenvolvimento capaz de conciliar crescimento econômico, justiça social e conservação dos ecossistemas. Essa transição, contudo, exige mais do que o avanço tecnológico: requer uma profunda transformação na forma como compreendemos o território, o uso dos recursos e o papel do Estado no planejamento sustentável.

Nesse contexto, o Amapá desponta como um território de relevância estratégica singular. Com indicadores de cobertura vegetal preservada elevadíssimos e um dos maiores contínuos de manguezais do planeta, o estado concentra biomas que conectam floresta, cerrado e ecossistemas costeiros, constituindo um verdadeiro laboratório natural para a inovação ecológica e climática. É nesse espaço que o debate sobre transição energética e exploração de petróleo assume contornos complexos e decisivos. A questão central não se resume à possibilidade de exploração, mas à forma como ela ocorrerá e ao legado que deixará para as próximas gerações.

Dessa forma, as Soluções Baseadas na Natureza (SbN) ganham força nesse cenário como instrumentos estratégicos para alinhar desenvolvimento e sustentabilidade. Partindo da premissa de que a própria natureza oferece respostas eficientes e economicamente viáveis aos desafios humanos, as SbN englobam práticas como restauração florestal, manejo de bacias hidrográficas, agricultura regenerativa, conservação costeira e valorização de serviços ecossistêmicos.

No Amapá, onde a integridade ambiental é um ativo real, essas soluções se tornam fundamentais não apenas para mitigar impactos, mas para regenerar paisagens e gerar valor econômico a partir da conservação. O mercado internacional de créditos de carbono e biodiversidade aponta nessa direção, e o Amapá tem potencial concreto para transformar sua riqueza ecológica em ativo financeiro e social. Entretanto, para que isso se realize, é indispensável planejamento, governança e integração entre políticas públicas, setor produtivo, universidades e comunidades locais.

A chegada de grandes empreendimentos energéticos na região representa um teste de maturidade institucional. Exige do Estado e da sociedade civil uma nova capacidade de coordenação e decisão, capaz de demonstrar que é possível compatibilizar investimentos robustos com sustentabilidade efetiva. Isso implica construir uma carteira estadual de soluções socioambientais, que articule restauração ecológica, gestão de carbono azul, fortalecimento de cadeias produtivas tradicionais, incentivo à bioeconomia e inovação verde, além de educação científica voltada à realidade amazônica. Tais iniciativas devem ir além da compensação ambiental, configurando uma verdadeira infraestrutura viva — uma base que protege, regenera e impulsiona o desenvolvimento de forma equilibrada e duradoura.

Essa transição energética e ecológica, entretanto, não se sustentará apenas em tecnologias limpas. Ela depende de um novo modelo de governança pública, baseado em ciência, transparência e participação social. No caso do Amapá, isso significa fortalecer instrumentos como o Zoneamento Ecológico-Econômico e o Sistema Estadual de Meio Ambiente, criar mecanismos de financiamento climático e adotar indicadores socioambientais que orientem políticas de longo prazo. A gestão pública deve atuar como articuladora estratégica, garantindo continuidade institucional e a integração entre saberes técnicos, comunitários e científicos. Sustentabilidade não se consolida com boas intenções, mas com execução planejada e visão de futuro.

O Amapá tem diante de si uma oportunidade rara: planejar o desenvolvimento antes que ele aconteça de forma desordenada. Sua integridade ecológica, baixo passivo ambiental e forte identidade cultural com a floresta o colocam em posição privilegiada para protagonizar a transição ecológica brasileira. Transformar essa vantagem em política pública significa investir em conhecimento, inovação e monitoramento, reconhecendo que o verdadeiro desenvolvimento amazônico é aquele que não destrói o que o mundo inteiro busca preservar.

O petróleo pode representar um ciclo econômico importante, mas não deve definir o destino do estado. O desafio é transformar esse momento em um ponto de inflexão, no qual o Amapá consolide um projeto de desenvolvimento sustentável de longo prazo, em que a floresta, os rios e os manguezais sejam reconhecidos como ativos estratégicos e não como obstáculos. As Soluções Baseadas na Natureza nos lembram que a tecnologia mais avançada ainda é a própria vida, e que a floresta não representa atraso, mas vanguarda. A transição energética, portanto, só fará sentido se for também uma transição civilizatória — se mudar a maneira como nos relacionamos com os territórios, as pessoas e o tempo. O Amapá pode e deve ser o território onde o Brasil demonstra que desenvolvimento e natureza não são forças opostas, mas partes de um mesmo projeto de futuro, no qual a economia floresce sem desflorestar e o progresso nasce, literalmente, da floresta.


Euridece Pacheco Ruella

Servidora Pública

Cofundadora e Diretora Executiva da Polítika Assessoria

Especialista em Gestão Pública

Mestre em Direito Ambiental e Políticas Públicas

Dama Comendadora da Câmara Brasileira de Cultura

 

 

 

Antonio Roberto de Souza Góes

Capitão do CBM/AP

CEO da Polítika Assessoria

Especialista em Gestão Pública

Pós-Graduado em Segurança Pública