Terra à vista! Em observância ao reordenamento e aprofundamento das relações Sul-Sul, materializadas radicalmente no novo contexto do capitalismo do século XXI, a América do Sul, de forma ampla e aguda, transformou-se em um universo “made in China”, cujo processo engloba o vendedor de camelô ao sojicultor, num comungar da presença chinesa nos mais diversos aspectos da vida cotidiana, de maneira declaradamente pacifista, utilizando-se de acordos comerciais e, obviamente, de mercados ávidos por investimentos, especialmente, os vultuosos.
A China, com o PIB de um pouco mais de US$ 18 trilhões, configura-se como a segunda maior economia do mundo, sendo também uma potência geopolítica e econômica e, ainda, a maior compradora internacional de matérias-primas. Destarte, à luz de Moreno (2015), em total ascendência como potência global, a China demonstra seu poderio em questões relativas à política, economia e segurança internacional, configurando o cenário o qual os analistas definem como o fim do Século Americano e o início do Século do Pacífico, tendo o continente asiático como o novo centro das dinâmicas ditadoras do mercado mundial.
Assim, nessa colossal conjuntura, na qual as economias de todo globo, em maior ou menor grau, encontram-se correlacionadas com a economia chinesa, entrelaçadas numa engrenagem sem igual, uma conexão inédita entre o Porto de Santana, no estado do Amapá, extremo Norte do Brasil, e o Porto de Gaolan, na cidade de Zhuhai, na China, foi estabelecida oficialmente em abril deste ano. A iniciativa, resultante de acordos bilaterais, reforça o posicionamento do governo brasileiro como parceiro estratégico da China e, por conseguinte, coloca o Amapá no centro da nova rota marítima internacional.
A nova artéria de logística marítima inicia na grande área da Baía de Guangdong-Hong Kong- Macau – região de estratégia nacional e importante centro de negócios do Sul da China, composta por nove cidades da província de Guangdong, e pelas Regiões Administrativas Especiais de Hong Kong e Macau -, e vai diretamente para o Porto de Santana e Porto de Salvador, no Brasil. Além de fornecer assistência precisa, estável e diversificada, a viagem Zhuhai-Brasil servirá como uma solução de logística completa para mercadorias a granel, como produtos agrícolas e minerais, bem como mercadorias em contêineres, como produtos eletrônicos, equipamentos, máquinas, etc.
Fonte: Plataforma Pública WeChat, 2025.
Em observância à figura acima, é nítida a eficiência em tempo, visto que o período da viagem é reduzido em 30 dias em comparação com as rotas tradicionais, trazendo mais oportunidade para o mercado, assim como, otimizando custos, à medida que a logística é reduzida em mais de 30%. A princípio, um navio da Zhuhai Jingkai Allianz Shipping, com investimentos conjuntos da Plataforma de Serviços de Integração Econômica e Comercial China – América Latina (SINO-LAC) e de empresas de transporte, fará a rota sino-brasileira a cada dois meses, frequência essa que será aumentada gradualmente de acordo com a demanda de mercado.
Em Zhuhai, o Porto de Gaolan, é considerado o canal de navegação de mais alto nível no grupo portuário do Delta do Rio das Pérolas, por ser o único formado por águas profundas, composto por 76 berços produtivos, 27 empreendimentos terminais com capacidade para processamento de 160 milhões de toneladas por ano, sendo ainda um dos poucos portos do sul da China composto por recursos de transportes, tais como aeroportos, rodovias, canais transoceânicos, oleodutos, ferroviais portuárias, gasodutos. Ele compõe a rede logística multimodal “mar-ferrovia, terra-mar e oleoduto marítimo” do “Cinturão e Rota”, incluindo 13 rotas internacionais, alcançando o Sudeste Asiático, Nordeste Asiático, Oriente Médio e, ainda, o Brasil e outras regiões.
Fonte: Plataforma Pública WeChat, 2025
Na literalidade da expressão, do outro lado do globo, no estado do Amapá, tem-se o Porto de Santana, localizado no município do qual recebe o nome, e que, historicamente, é conhecido pelo escoamento da produção de manganês, iniciado na década de 1950 pela empresa ICOMI (Indústria e Comércio de Minérios S.A.), e finalizado em 1998. A cidade recebe em sua área portuária navios e barcos oriundos da cidade de Belém, regiões ribeirinhas e outras cidades do Norte do país. O Porto de Santana também se apresenta como um dos polos de distribuição do norte do país. Atualmente, granéis sólidos e líquidos, contêineres, cargas em geral são operados por meio de transporte de navio para navio, e representam os principais produtos movimentados.
Fonte: Plataforma Pública WeChat, 2025
Salientando as linhas de Moreno (2015), a realidade trazida pela nova rota oceânica China-Brasil, em um cenário internacional, demonstra as profundas transformações de mercado e, por conseguinte, a reorganização nas relações no comércio entre as nações. A consolidação de uma nova ordem totalmente globalizada faz emergir intersecções comerciais antes pouco vislumbradas, mas que atualmente ressaltam, acima de tudo, dinâmicas do metabolismo no qual a China orienta estratégias nacionais e regionais para consolidar suas perspectivas e demandas.
Enfim, considerando o profundo fortalecimento dos laços bilaterais sino-brasileiros como um demonstrativo da crescente interdependência global e da reconfiguração do metabolismo capitalista, bem como, tendo em vista o atual cenário internacional envolvendo o aumento de tarifas, criação de barreiras comerciais, a efetivação da nova rota marítima Zhuhai-Amapá-Salvador é um demonstrativo da macroestratégia nacional para inaugurar novas perspectivas sobre o crescimento econômico e assegurar a configuração de mercados antes nunca imaginados e, sim, nesse contexto, o Amapá atuará com protagonismo na grande linha marítima do comércio internacional.
Euridece Pacheco Ruella
Prof.ª. Ms.ª em Direito Ambiental e Políticas Públicas
Especialista em Gestão Pública
Antonio Roberto de Souza Góes
Capitão do CBM/AP, graduado e especialista em Gestão Pública
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